quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O primeiro dia

Finalmente, férias. De tão esperadas, entontecem-nos  os sentidos, as rotinas, os hábitos.
Acordamos de manhã prontos para mais um dia de trabalho, autómatos que estamos das obrigações e do relógio e temos que dizer ao nosso corpo para parar, uma ordem que demora a ser cumprida porque há muito está esquecida na confusão dos dias cheios e apertados.

E este é um dia longo, demoramos a tomar o café, olhamos as árvores da janela, a manta em cima do sofá, os gatos a dormirem, descansados, ouvimos e sentimos o silêncio. Por toda a casa. Que se enche de luz, aumentado os objetos que nela estão, como se fossem coisas de postal ilustrado.
E é apenas a nossa casa no primeiro dia de férias, as fotografias são as de sempre, mas parece que o rosto da nossa mãe está mais aberto e próximo e os filhos, pequenos, irradiam felicidade, em risos e abraços quentes.
Demoramos o olhar em cada detalhe, porque as horas não são urgentes e as tarefas hoje são escolhidas por nós. A qualquer hora. Por exemplo, dar colo ao gato, que nos olha estarrecido por este súbito tempo livre, em plena meia manhã. E deixa-se estar, aninhado de contente, a ronronar ternuras esquecidas. Nós também.

E assim estamos, a desfrutar de tanto tempo. De vez em quando o corpo ainda se agita, estranha a calma e a apatia que o inunda. Porque assim estamos neste dia, confundidos, em balanços sucessivos entre os sons ensurdecedores de ontem e o cheiro de maresia que se aproxima a passos largos. Vamos remar até ao sul, espera-nos uma praia com pedras, água límpida e areia quente. E uma varanda com vista para o mar. Azul.

E sobretudo tempo. De utilização livre.  

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