terça-feira, 25 de agosto de 2020

Empatia e cuidado

Eu sei que é tudo muito complexo, nada linear, mas fico perplexa com a abordagem e a comunicação. De um lado uma pessoa aflita, um pouco trémula, a tentar esclarecer as suas dúvidas de saúde. Do outro, a profissional esclarecida, dando informação precisa, até meticulosa, frisando a função e o protocolo a que está obrigada. Estavam a falar do mesmo, mas estavam em situações opostas, uma aflita, meia atrapalhada, a querer respostas para si, a outra segura, zelando pelo cumprimento das regras institucionais. E eu a ver, eu a experimentar a vulnerabilidade de uma e a impaciência da outra e o ruído instalado nas palavras e a tensão guardada em cada corpo. Por razões diferentes. 

E fui embora, enrolada nas minhas ideias, a filosofar sobre esta coisa da atenção ao outro, quando o outro nos chega desprovido de bem estar e deposita em nós, a sua esperança e ansiedade. Quando as condições se diferenciam e um detém, formalmente, mais saber, mais direito(s) e mais poder que o outro. Porque domina, porque orienta, porque determina. 

Saí a filosofar sobre a força das lógicas burocráticas em detrimento da singularidade de cada um,

Desenho do J.I. Trafaria

que apenas necessita de um olhar atento, um corpo afável, uma linguagem mais humana, que tenha em linha de conta, a pessoa que ali se apresenta e a cuja fragilidade devemos atender. Por função e formação ética, profissional e humanista.

Que coisa é esta que faz com que as instituições e as suas regras se sobreponham às pessoas, aos seus contextos e condições singulares? que cultura é esta que repõe entre pessoas as normas e os regulamentos, crispando a comunicação e a atenção afetuosa ao outro?  Porque nos socializamos tão rapidamente, nas culturas rígidas dos contextos profissionais, esquecendo, na prática, o que tão levianamente apregoamos: cada caso é um acaso; o atendimento deve ser de qualidade e centrado na pessoa; é importante   colocarmo-nos do ponto de vista do outro, etc; etc; etc; 

Fui-me embora a pensar também nas escolas e nas nossas crianças e famílias, a quem tantas vezes, também atendemos com o cardápio das regras gerais e não com a individualidade, a atenção e o afeto que cada uma necessita e tem direito. Como se a singularidade e a flexibilidade pusesse em causa o equilíbrio da instituição e ameaçasse a sua existência e funcionamento. Como se nós, ao devolver uma atenção empática ao outro, perdêssemos o nosso espaço, a nossa função, o nosso prestígio.  

Mas não é. Apenas aumentamos a nossa função ética e cuidadora, apenas disseminamos uma cultura de cuidado e atenção, apenas aprendemos a ser atentos, sensíveis e prestáveis. Será que dá mais trabalho? tenho para mim que não, exige é uma outra conceção sobre a pessoa e o mundo e sobre a forma de combater a existência massificada e respeitar a individualidade de todos e de cada um.  

Acho que vale a pena experimentar e treinar a empatia e a sensibilidade. Porque os nossos comportamentos são aprendidos e apreendidos e atitude gera atitude.