domingo, 25 de agosto de 2013

Semana cheia

Regressei hoje da nossa casa, depois de uma semana de descanso. 
Vi de novo as terras de milho alto, agitado pelo vento, os braços da ria, os juncais, o mar bravo da Torreira, o cair da tarde e o inicio da manhã. Tomei o pequeno almoço na eira, reguei o jardim, compus uma jarra de flores, coloquei quadros na parede, alindei de novo a casa, ficou bonita. Mais ainda. Por lá andei, a saborear os últimos dias de férias. Na minha terra.

E foi bom. As palavras é que mingaram, porque não fui capaz de as utilizar em textos, como regularmente faço. Sem saber bem como, desapareceram e todas as tentativas foram em vão. Acho que me enchi de imagens, poderosas e ténues. Retive-as o mais que pude dentro de mim, mesmo aquelas que me tocavam de raspão e malandras, desapareciam num ápice. Velozes e matreiras, andaram abraçadas a mim, em abraços nem sempre amistosos, num jogo de toca e foge, que em alguns dias me deu um cansaço infinito e noutros uma alegria reconfortante. Um aconchego. 

Talvez por isso me ocupei em demasia, e as palavras, que sempre me acompanham, não encontraram nem poiso nem guarida para fazerem coro e sentido para os textos que escrevo. Senti falta delas, mas o espaço ficou todo preenchido com imagens que indiscriminadamente, brotavam do fundo da memória. Em qualquer dia, hora ou lugar. As ameixas lindas da casa da minha avó, as amoras que apanhei e me pintaram os dedos como quando era menina, as fotografias esquecidas no fundo de uma gaveta, o cheiro antigo de um lençol de linho, o xaile preto sem pontas de traça, o meu vestido de renda, tão pequeno, do dia do meu batizado. Eu já fui assim? E a tua fotografia, mãe, junto à porta de nossa casa, pouco tempo antes de partires. Um sorriso meio triste, com olhos no fim do mundo. Lá longe.

Tudo tão forte, tudo tão surpreendente, tudo tão inquieto, tudo tão doce. Não houve lugar nem tempo para aceitar e escolher palavras. Ficou tudo preenchido e o silêncio foi de ouro. O silêncio, a ria, o mar, o vento, o jardim. E tu e a avó, e eu e o meu irmão, e os filhos, e tias e amigas e amores. Em imagens e memória. Semana cheia. 



1 comentário:

  1. Manuela, gosto imenso da sua escrita. Parabéns pelo seu Blog. Pena é de não querer divulgá-lo numa rede social. Parabéns.
    Sou o marido da Ana Florinda.

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