quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Retrato de mulher

Tem um sorriso doce, um humor jovial e uma educação atenta. Ri-se vezes sem conta da ironia do destino, ainda que já tenha chorado pelas mesmas razões. Curiosa dos mistérios da vida e de coração aberto, ensaia leituras sobre os enredos que tecem o seu tempo, vendo-se como é e alimentando o que gostaria de ser.

Não pede licença para falar e o medo é uma emoção longínqua, que apenas equaciona quando os sentidos ficam alerta. Utiliza-os quanto baste, no correr do presente, que não dá de mão beijada, nem a preço de saldo.

Não sendo propriamente jovem, investe-se de sonhos possíveis, que cultiva com uma quota suficiente de loucura e otimismo. Da vida quer a sua seiva mais pura, dias de sol e a alegria de ser pessoa inteira.
Não ignora os limites de si, lutando para os exceder em aventuras pensadas, ainda que inquietas. Tem dentro de si, a par do desejo, a cautela inevitável da experiência assinalada. 


Por isso, em alguns dias, ensaia viagens em marés desabrigadas, levando consigo os utensílios necessários para enfrentar o adamastor. Lembra-se de já ter passado o cabo das tormentas e por isso não anda desprevenida. Apesar da persistência dos sonhos.

   

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