terça-feira, 6 de agosto de 2013

O verão e as crianças

No verão as crianças crescem. Ocupam as ruas e as praças até altas horas da noite, em gargalhadas felizes, ninguém as manda cedo para a cama, os horários estão esquecidos no fundo das gavetas fechadas das obrigações.

O mesmo acontece na praia.
Chegamos cedo e elas já lá estão, com o corpo salpicado de água fresca e a energia plena de quem tem muito para viver nos dias que correm devagar. Arrastam os baldes pela areia, molham as mãos e chapinham os pés com força nas poças de água, gritam, batem palmas, entram dentro das ondas e espantam-se com a força do mar. Por perto, pais e avós olham-nos enamorados pelo seu vigor e ensaiam jogos conjuntos, brincadeiras ruidosas e infantis, numa alegria descontraída de gente contente.

Alguns são muito pequeninos, pegam nas mãos dos grandes e puxam-nos, para correr com mais segurança, a distância entre a toalha e o rebentar as ondas. Vão decididos e mudos, espantados com tanta largueza de areia que sentem nos pés minúsculos e no entanto, capazes de andarem tempo sem fim. E sentam-se, levantam-se, caem, correm, amassam a areia, olham as gaivotas, e sentem o vento na cara. Às vezes choram e pedem colo, aninham-se no peito do pai ou da mãe e adormecem embalados pela cadência do bater das ondas na areia. A chucha cai da boca e serenos recuperam o bem-estar e a energia até às próximas brincadeiras.  

E os adultos que delas cuidam e as amam ficam tranquilos a ver o mar, agradecem o silêncio, sabem-no fundamental para a renovação da disponibilidade. Em breve será necessária e quer-se quase inesgotável, para alegria das crianças e satisfação dos grandes.

No verão as crianças crescem e com elas os crescidos também. Alimentam-se de tempo livre, cultivam a atenção e tentam reparar o tempo preso e a pressa desmedida dos outros meses do ano.


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