Era uma vez uma pedra, junto ao mar.
Branca e luminosa, redonda na forma,
suave e inteira, linda. Nunca antes se vira outra assim, envolta em águas
mornas e transparentes, despojada, perfeita, à mercê do olhar e das mãos de quem
nela reparava. Rodeavam-na algumas algas, em forma de colo e adorno, cama e
encosto. Ali estava a meio do caminho do mar, ao lado de conchas e búzios.
Pedra rara.
Ninguém lhe tocava, a sua cor e brilho ofuscava
o gesto mais descuidado e imprudente para a prender. Era demasiado bela. Mesmo
as crianças que por ali passavam, observavam-na admirados pela luz que imanava
e espantados deixavam-na ficar, perfeita e recolhida no verde das algas.
Diz-se que um dia um rapaz atento e
discreto, guardador de sonhos, se encantou com a sua beleza e num gesto
deliberado a tirou do mar para a juntar à sua coleção de pedras preciosas. Apesar
de todo o cuidado e empenho colocados na mudança de lugar, a pedra começou
lentamente a escurecer, até que perdeu, para sempre, o brilho e a luz. Tornou-se
uma pedra igual a tantas outras e nesse dia, o rapaz, num lamento conformado,
retirou-a da sua coleção de pedras raras. Devolveu-a ao mar, confundido com a
vulgaridade da sua aparência.
Já não foi possível voltar à sua imagem
anterior. Ao fim de algum tempo, a pedra perdeu para sempre a sua preciosidade.
O rapaz nunca mais teve coleções e o mar ignorou por completo, o regresso da
pedra.
Não houve tempo para confirmar se algum
mistério lhe poderia ter devolvido a luz e a beleza.
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