segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A preciosidade da pedra

Era uma vez uma pedra, junto ao mar.
Branca e luminosa, redonda na forma, suave e inteira, linda. Nunca antes se vira outra assim, envolta em águas mornas e transparentes, despojada, perfeita, à mercê do olhar e das mãos de quem nela reparava. Rodeavam-na algumas algas, em forma de colo e adorno, cama e encosto. Ali estava a meio do caminho do mar, ao lado de conchas e búzios. Pedra rara.
Ninguém lhe tocava, a sua cor e brilho ofuscava o gesto mais descuidado e imprudente para a prender. Era demasiado bela. Mesmo as crianças que por ali passavam, observavam-na admirados pela luz que imanava e espantados deixavam-na ficar, perfeita e recolhida no verde das algas.

Diz-se que um dia um rapaz atento e discreto, guardador de sonhos, se encantou com a sua beleza e num gesto deliberado a tirou do mar para a juntar à sua coleção de pedras preciosas. Apesar de todo o cuidado e empenho colocados na mudança de lugar, a pedra começou lentamente a escurecer, até que perdeu, para sempre, o brilho e a luz. Tornou-se uma pedra igual a tantas outras e nesse dia, o rapaz, num lamento conformado, retirou-a da sua coleção de pedras raras. Devolveu-a ao mar, confundido com a vulgaridade da sua aparência.

Já não foi possível voltar à sua imagem anterior. Ao fim de algum tempo, a pedra perdeu para sempre a sua preciosidade. O rapaz nunca mais teve coleções e o mar ignorou por completo, o regresso da pedra.
Não houve tempo para confirmar se algum mistério lhe poderia ter devolvido a luz e a beleza.




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