segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Voos rasantes

Água azul a perder de vista, tépida no corpo, fresca para os olhos, suave, límpida. Perfeita, neste primeiro sábado de férias. Sentimo-la a banhar o nosso corpo, ouvimo-la bater levemente na areia, música suave para os ouvidos e o coração.

Ao longe e ao perto, as gaivotas fazem voos rasantes de pássaros livres, cinzentas e brancas, o contorno das asas e do corpo no azul do céu, o bico rápido a capturar um peixe distraído. Queríamo-nos assim, igualmente decididos para ensaiar, com bravura, itinerários de peregrinos afoitos. Sem medo das alturas e do calor do sol em tardes tórridas, amantes do vento, poderíamos sair por aí à procura de alimento para a fome, feita do cansaço dos lugares comuns da vida e sedenta de outros manjares e repastos. Por exemplo, uma sobremesa de poesia, um risttreto com conversa, uma salada numa galeria, um bailado à ceia, um filme de autor a seguir ao almoço. Viver com arte, salpicar de sons, cor, tempero e criatividade o tempo que ainda temos fora e dentro de nós, estrangeiros que andamos do nosso ser completo.


Fazer voos rasantes de gaivota livre, abrir as asas e voar, em equilíbrio perfeito no azul do nosso céu, esse que pintamos todos os dias com aguadas de silêncio, promessas e devaneios. E depois sobrevoar as imensas praias da nossa vida, as areias douradas a perder de vista, as pegadas deixadas para gente perdida, os corações desenhados em dias de paixão, os tesouros escondidos das grutas dos nossos segredos.

Ser gaivota nos dias longos do verão. Poder continuar a sê-lo no frio do inverno e na temperança da primavera e do outono. Gaivota sempre.

Isto tudo penso e acalento, nesta manhã, com o corpo molhado pelas águas da Meia Praia. Em Lagos.

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