sábado, 11 de abril de 2020

Pão e Pensamento

O meu filho mais novo, num dos seus escritos (trocamos escritos, às vezes) disse-me que eu e o pai lhe tínhamos dado "pão e pensamento". Surpreendi-me com a expressão e retive-a em mim. É forte, concisa e essencial, se pensarmos nas coisas da educação e naquilo que podemos legar aos nossos. 

Pão. É o sustento para a boca, o leite morno em bebé, os lanches da escola, os dedos lambuzados do mel, a sopa na mesa, a carne e o peixe, os legumes. E as birras, porque não se gosta, e a cara feia porque tem de ser. E as vacinas, a febre e a constipação. E os joelhos esfolados. O pão para a boca, que o corpo cresce e precisa de cuidados, misturados com beijos e abraços, que também alimentam. O pão, mais ou menos suado e ganho, na jornada diária do trabalho. O pão, que uns podem dar e outros não, ainda que o queiram fazer.

Pensamento. Palavras e ideias que se dizem, entre corridas para a escola, treinos e preguiças lentas pela manhã. Exemplos de vida, não debitados, mas vividos, expostos com transparência nos detalhes dos dias. Conversas à mesa, trazer para dentro as injustiças da vida lá de fora e tomar posição. De frente e sem medo.  Encontros de amigos, férias em conjunto, numa cultura de grandes e pequenos, que se pensam e se dizem, trocando ideias e razões. Um pensamento com utopias e princípios, com clareza e sem dúvidas disfarçadas. Um pensamento sempre certo? não, sempre verdadeiro e se possível, critico e justo.

E no meio do pão e do pensamento, as crianças a beberem e a mastigarem o que nós lhes damos. Tomemos cuidado com o que pomos na mesa e sobretudo o que oferecemos para o pensamento. Desde logo, desde muito cedo. Para sermos sempre excecionais? Não. Para não esquecer que somos o adubo diário para o seu corpo, emoção e pensamento. Para sermos vigilantes e atentos. E humildes, para aprender com eles o exercício da verdade. Todos os dias.