segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Arrumar a casa

De novo em casa.
Não se poderá dizer lar, doce lar, porque em tempo de férias, a casa de todo o ano vira uma gaiola e nós uns pássaros doidos, a bater as asas, sedentos de liberdade.

A nossa casa é um ninho de aconchego, um porto seguro, uma réstia de sol em dias frios. Mas em agosto, enche-se de coisas por fazer, arrumações e limpezas há muito prometidas, pinturas de paredes que ficam amarelas, renovação do jardim esquecido ao longo do ano. 
E há também o sótão que acumulou muitos livros fora do lugar e sacos e recordações e tudo o mais que nos lembramos de aqui arrumar. 

O que acumulamos e guardamos numa casa! Tudo o que achamos que nos faz falta e muito mais do que necessitamos. Enchemos-la de vestígios de nós e mantemos-los durante anos, incapazes de os deitar fora, porque quem sabe, talvez um dia nos dê jeito...e o jeito nunca acontece. 


Então, em dias de férias, num rasgo de racionalidade, iniciamos um longo percurso de arejamento das coisas supérfluas, acrescentos sem significado, bocados de antigamente que nos vedam o caminho e atrapalham a necessidade de espaços livres, brancos, organizados e funcionais. Ficamos até contentes quando cumprimos este propósito. 

Até lá, ruminamos zangas e espantos com tanto que guardámos. E prometemos mudar este comportamento de acumulação da vida, feito corpo em objetos e matérias físicas. 

Como se isso resolvesse o que quer que seja do nosso conforto e da nossa identidade.    


1 comentário:

  1. Pois, é verdade, mas é mesmo assim, sinto o mesmo. E continuo a gostar de a ler, e de encontrar tantas sintonias nos seus textos...

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