Aceitemos que as férias acabaram. Arrumamos os sacos da praia, sacudimos o resto de areia, colocamos o despertador no sítio do costume, limpamos a secretária, preparamos a agenda. Estamos no regresso ao trabalho, no caso, no regresso às aulas. Tal como as crianças. E tal como as crianças move-nos uma certa nostalgia, misturada com contentamento. Deixar um tempo de nada fazer para começar um tempo cheio.
E agora que as crianças estão quase a bater à porta, é bom que a possamos abrir com um sorriso pronto e um coração aberto, para bem acolher. Vão chegar de mansinho, com lágrimas ou grandes corridas, algumas com medo, outras destemidas, a rir ou a esconder a cara, no meio da sala ou encostadas à saia da mãe...de mil formas e mil entradas vão chegar, coração aos saltos, expectantes e curiosas, precisam de conhecer, confiar e aprender a gostar dos lugares e das pessoas que com elas vão viver dias e dias de aventuras boas e desafiadoras. Assim esperam. Assim queremos nós também.
E quando abrirmos a porta, o que importa oferecer e construir
- um espaço agradável e pleno de coisas e tempo para explorar e brincar. Sem pressas. A pedagogia do caracol, a vagareza do tempo, como condição para aprender e ser com os outros.
- um ambiente afetivo e culturalmente rico. Inclusivo. Lugar para todos e todos com um lugar, reconhecendo o direito à diferença e à identidade pessoal e social. A sensibilidade ao outro, pequeno ou grande.
- o primado da expressão, fala, canto, desenho, pintura...diálogos profundos e verdadeiros, com palavras e ou gestos, produções com tinta, lápis, em papel, no quadro, na mesa. A criatividade como unica forma de exprimir e projetar quem somos e o que sonhamos.
- atenção e disponibilidade, colo e olhares, mãos e abraços...também zangas, talvez, a certeza que aprender a ser entre outros, não é genético nem natural. Exige compromissos, escuta, observação, aprender a colocarmo-nos do ponto de vista do outro, coisa dificil e nunca totalmente acabada.
- uma equipa coesa, critica e comunicativa, capacidade de envolver todos nesta jornada em companhia.Ser capaz de acreditar coletivamente na educação como ferramenta de construir presentes e futuros plenos. Para todos. Crianças, profissionais, familias.
E quando abrirmos a porta, estaremos preparadas para dar tanto? e muito mais que nem foi ainda aqui dito?
Se não estamos preparadas, preparemo-nos, pois. Busquemos o descanso que nos envolve ainda, com cheiro a mar e algas; convoquemos o tempo solto que nos baila no corpo, a leveza das paisagens que percorremos neste agosto e guardamos nos olhos; a liberdade que nos assolou nas noites quentes deste verão que está a terminar.
E cheias de descanso e otimismo, arregacemos as mangas, para bem acolher...
Porque um bom começo serve para todo o ano...
❤
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