domingo, 13 de setembro de 2015

Setembro

Cai uma chuva mansa sobre a terra, as gotas deslizam nas folhas das árvores do quintal, o tempo está morno e doce. Assim sinto e penso setembro, o mês dos nossos reencontros, em casa e na escola. O mês dos risos envergonhados dos primeiros dias, de lágrimas teimosas nos olhos procurantes de quem chega. O mês dos abraços fortes das saudades, da alegria renovada do encontro, da retoma do tempo depois do verão.  

http://great-images.org/wp-content/uploads/2014/08/Welcome-September-daydreaming-32023992-400-602.jpgO mês do cheiro amigo de livros novos, das batas limpas e engomadas, das mochilas com bolas e sonhos de meninos, das chupetas e bonecos colados ao peito para dar coragem. O mês de novas e velhas amizades, queres brincar comigo, anda, vamos..., das tintas a escorrerem dos pincéis, dos riscos altos e coloridos dos desenhos, das gargalhadas e correrias soltas no recreio. O mês das folhas caídas no chão, do quente do laranja e castanho dos campos, do barulho dos pés a percorrer os caminhos da mata e da vida.

Assim penso e sinto setembro. Um imenso renovar de estações e projetos, amores a construir e continuar, em jeito de memória e desejo. Um tempo de recolher os frutos da terra e da vida, amanhá-la e prepará-la para os dias que se anunciam. E anuncia-se quase tudo de bom, como queremos e desejamos.

Assim penso e sinto setembro. Uma espécie de ano novo, com sol dourado, doce e terno, em tempo de recomeço. Com muitos meninos e meninas em seu redor e junto a nós.

domingo, 6 de setembro de 2015

Despedida(s)

Domingo soalheiro. Ainda bem.  
O corpo retoma um pouco de calor doce, a alma, essa, permanece algures por aí, entre dunas da praia e brisas suaves da ria. Demoramos a fechar esses dias, queremos ainda guardar em nós uns bocados de sol dourado das tardes estivais, alento necessário para as noites frias de inverno.

Por agora aguardamos o outono, esse doce outono, folhas eternas no chão, cheiros húmidos de terra molhada, casacos leves a aquecer os ombros, dias que minguam e anoitecem mais cedo. Um deslizar suave para o inverno, as árvores despidas, um café bom numa esplanada de praia deserta, depois de setembro.  

E assim vamos destilando o tempo e as estações, num vai e vem de barco no mar, entre marés calmas e ondas furiosas, tecendo a vida com partidas e chegadas, pés assentes em portos seguros, coração a fugir ao largo, com fome e sede de outras paragens. 

Somos assim e de outras formas, mas não podemos regatear o preço da passagem das estações, qualquer que seja a nossa força, engenho e arte. Por tal determinação, cumpre-nos aceitar o tempo, namorar com ele e desassossegá-lo com outros calendários e romarias. Festas antigas ou novas, recriando o prazer de sermos gente, em diálogo, sonhos e projetos. 

Em casa, com os nossos, na escola, com quem lá vive e nos reclama dias inteiros e claros. 

Como nos diz Sophia 

Abre a porta e caminha
Cá fora
Na nitidez salina do real 

(Sophia  de Mello Breyner, in Musa)