E fui embora, enrolada nas minhas ideias, a filosofar sobre esta coisa da atenção ao outro, quando o outro nos chega desprovido de bem estar e deposita em nós, a sua esperança e ansiedade. Quando as condições se diferenciam e um detém, formalmente, mais saber, mais direito(s) e mais poder que o outro. Porque domina, porque orienta, porque determina.
Saí a filosofar sobre a força das lógicas burocráticas em detrimento da singularidade de cada um,
Desenho do J.I. Trafaria |
que apenas necessita de um olhar atento, um corpo afável, uma linguagem mais humana, que tenha em linha de conta, a pessoa que ali se apresenta e a cuja fragilidade devemos atender. Por função e formação ética, profissional e humanista.
Que coisa é esta que faz com que as instituições e as suas regras se sobreponham às pessoas, aos seus contextos e condições singulares? que cultura é esta que repõe entre pessoas as normas e os regulamentos, crispando a comunicação e a atenção afetuosa ao outro? Porque nos socializamos tão rapidamente, nas culturas rígidas dos contextos profissionais, esquecendo, na prática, o que tão levianamente apregoamos: cada caso é um acaso; o atendimento deve ser de qualidade e centrado na pessoa; é importante colocarmo-nos do ponto de vista do outro, etc; etc; etc;
Fui-me embora a pensar também nas escolas e nas nossas crianças e famílias, a quem tantas vezes, também atendemos com o cardápio das regras gerais e não com a individualidade, a atenção e o afeto que cada uma necessita e tem direito. Como se a singularidade e a flexibilidade pusesse em causa o equilíbrio da instituição e ameaçasse a sua existência e funcionamento. Como se nós, ao devolver uma atenção empática ao outro, perdêssemos o nosso espaço, a nossa função, o nosso prestígio.
Mas não é. Apenas aumentamos a nossa função ética e cuidadora, apenas disseminamos uma cultura de cuidado e atenção, apenas aprendemos a ser atentos, sensíveis e prestáveis. Será que dá mais trabalho? tenho para mim que não, exige é uma outra conceção sobre a pessoa e o mundo e sobre a forma de combater a existência massificada e respeitar a individualidade de todos e de cada um.
Acho que vale a pena experimentar e treinar a empatia e a sensibilidade. Porque os nossos comportamentos são aprendidos e apreendidos e atitude gera atitude.