Domingo lento. Cirandamos pela casa, fazendo pequenas coisas, numa preguiça boa. Entregamo-nos às tarefas domingueiras, almoço com os rapazes, a alegria calada de os ouvir discutir futebol e política, levantar a mesa, estender roupa, compor as almofadas no sofá. Tudo com tempo e gestos lentos, em modo ainda de descanso. O pensamento esse, já se perde por momentos, entre o cheiro do mar e da ria e as imagens da escola e dos meninos e meninas. Não dizemos nada, silenciamos o devaneio, cá em casa criticariam esta antecipação, mãe, calma, ainda estás de férias...porquê isso?
Porquê? Porque sou educadora, porque vou começar a trabalhar, porque a nossa matéria de investimento e intervenção são pessoas, pessoas pequenas, crianças, frágeis e fortes, competentes e autónomas, mas também dependentes, que nos esperam de corpo inteiro, para lhes darmos e com elas construirmos um tempo de bem estar, bem aprender, bem conviver e brincar.
Porquê? Porque essas crianças, que chegam de riso alegre e lágrimas grandes, merecem o melhor das escolas, da pedagogia e dos educadores e isso é definitivamente uma coisa dificil e pouco provável de acontecer, se os profissionais não se munirem de intencionalidade, ética, sentido do(s) outro(s), liberdade, diferenciação. E criatividade no currículo. E aposta no trabalho de equipa. E...
Por isso, uma educadora em vésperas de (re)início do ano letivo, ainda que em modo de descanso, não consegue aprisionar o pensamento e concentrar-se apenas em tarefas domingueiras. Nem fazer diminuir uma espécie de nervoso miudinho que alastra na barriga, como em véspera de um exame final. Apesar de muitos anos de prática, dos supostos saberes acumulados, da experiência arrecadada.
Porque cada ano é uma nova aventura e um novo desafio, que queremos ganhar, com os meninos e meninas que nos chegam, vestidos de novo, em roupas e sonhos. Que lhes possamos todos proporcionar um tempo descansado e lento, sem pressas curriculares e com muitas brincadeiras felizes. E autonomia. E democracia.
Bom ano letivo para todos