O dia está morno e sossegado, um pouquinho de melancolia invadiu-me o coração e fui para o jardim limpar ervas e espantar tristezas. Mas tu mantiveste-te por perto, apareceste com a bata de trazer por casa e uma tesoura para ajudar na tarefa de alindar o espaço. Bem gostavas de o fazer, entre umas inevitáveis críticas pois claro trabalhas tanto que nem consegues ter o jardim com jeito... Pois não, mãe, só em tempo de folga, neste agosto de manter preguiças, consigo vir ao jardim e permanecer nele, entre apanhar ervas e apreciar a beleza do verde.
Hoje vieste comigo, porque andaste nos meus sonhos de noite e acordei contigo pela manhã. O teu andar a descer as escadas, o cheiro do café com leite, as torradas e a manteiga. E a consulta ao tempo, afastando a cortina da cozinha está enevoado...e mais frio...1º de agosto, 1º dia de inverno, dizia o meu avô, terias dito também, confirmando as tuas aprendizagens e a tua memória de menina pequena.
Se hoje estivesses mesmo cá, com a bata de trazer por casa, faríamos desta casa um lugar melhor para estar. E do jardim, um enorme espaço de palavras e afetos, com risos, recordações soltas e discussões amenas não, esta flor precisa de ser regada e aparada...não percebes nada disto...
Pois não, mãe, nem de jardins nem de ausências teimosas que em ciclos quase previsíveis, nos atacam o coração e o pensamento em forma de saudade. E que aí ficam, indiferentes ao cheiro das férias e aos nossos pedidos para saírem de mansinho, não vão as lágrimas tomarem a dianteira e o dia ficar escuro.
Tu não havias de querer isso, apesar do provérbio do teu avô. Se estás por aqui, fica discreta e calma, não caves fundo nas memórias do nosso chão, não queiras tocar nas raízes que nos prendem até à eternidade. Quero, contigo e sem lamentos, continuar esta faina no jardim que eu sei que tanto gostavas. Assim se cumprirá mais um dia de verão, em boa companhia.
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