Domingo soalheiro. Ainda bem.
O corpo retoma um pouco de calor doce, a alma, essa, permanece algures por aí, entre dunas da praia e brisas suaves da ria. Demoramos a fechar esses dias, queremos ainda guardar em nós uns bocados de sol dourado das tardes estivais, alento necessário para as noites frias de inverno.
Por agora aguardamos o outono, esse doce outono, folhas eternas no chão, cheiros húmidos de terra molhada, casacos leves a aquecer os ombros, dias que minguam e anoitecem mais cedo. Um deslizar suave para o inverno, as árvores despidas, um café bom numa esplanada de praia deserta, depois de setembro.
E assim vamos destilando o tempo e as estações, num vai e vem de barco no mar, entre marés calmas e ondas furiosas, tecendo a vida com partidas e chegadas, pés assentes em portos seguros, coração a fugir ao largo, com fome e sede de outras paragens.
Somos assim e de outras formas, mas não podemos regatear o preço da passagem das estações, qualquer que seja a nossa força, engenho e arte. Por tal determinação, cumpre-nos aceitar o tempo, namorar com ele e desassossegá-lo com outros calendários e romarias. Festas antigas ou novas, recriando o prazer de sermos gente, em diálogo, sonhos e projetos.
Em casa, com os nossos, na escola, com quem lá vive e nos reclama dias inteiros e claros.
Como nos diz Sophia
Abre a porta e caminha
Cá fora
Na nitidez salina do real
(Sophia de Mello Breyner, in Musa)
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