Fui ter contigo à tua última
morada, levei um balde, uma tesoura, um ramo de flores. Fui a pé, por umas ruas
novas que agora fizeram com lugar para caminhadas e bicicletas. Pelo
caminho fui parando para apanhar mais flores, lírios do campo, amarelos, jarros
brancos, outras flores lilases e brancas e roxas, de que nem sei o nome nem
importa. São muito belas, a salpicar o verde das silvas, das canas, dos pastos
que crescem por todo o lado numa terra com muita água. Fui também à ribeira do
Martinho, ver os flamingos, vêm agora para ali, muitos, de pé na água, são
lindos.
Quando cheguei perto de ti o ramo de flores tinha aumentado no tamanho
e nas cores, arranjei a tua jarra o melhor que pude e sabia e a dos avós
também. Ficou tudo muito bonito, o silêncio do lugar deu-me tempo e paz para
compor os ramos, alisar e molhar a terra, tirar umas ervas daminhas. Depois
conversei um pouco contigo, falei-te de mim, dos teus netos, do meu irmão, de
como gostamos de ti e precisamos que continues a zelar por nós. Falei-te também
da nossa saudade que dói um bocadinho e é feita de lembranças suaves, alegres e
melancólicas.
Depois vim-me embora pela mesma rua, em passos demorados, a
procurar amoras, para comer umas quantas como quando era menina. Mas não havia,
as silvas secas pareciam mortas e órfãs.
Quando cheguei a casa, tinha no
balde mais flores e fiz uma jarra que coloquei na sala. Sentei-me na cadeira de
lona, na eira, a respirar de algum cansaço e a olhar as folhas do milho que se
colam junto ao muro da casa e impedem os olhos de se perderem no horizonte. Mas
o verde das folhas é lindo e o som que fazem com o vento que passa,
adormece-nos em dias amenos como este.
Assim fiquei na cadeira, a sentir o
silêncio e o calor desta tarde soalheira. Uma tarde de flores e conversas contigo.
Em pensamentos. Quem me dera que te sentasses também aqui na eira e falássemos
das peras que carregam a pereira que tanto gostavas. Está cheia de peras, mãe,
temos que as guardar para amadurecerem.
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