É uma amiga livre, porque é livre como pessoa. Move-se no mundo com poucas coisas, apenas carrega com convicção, o peso das suas ideias e crenças mais profundas. Sem protestos ou declarações de princípios. É assim, porque sim, tal como existe o sol, as árvores e o vento. Não embandeira em arco, é discreta e calada, mas o corpo e as palavras são sempre convites para sentar e beber um chá. Com tempo.
Por isso batemos à porta e surge-nos sorridente, simples e tranquila, sem limites ou horas marcadas no relógio. E isso é bom. A casa é igual a ela, com zuis de céu que se alongam quase até ao mar. Depois existem os livros e o computador e os seus estudos, mulher curiosa e organizada tem sempre à mão estratégias e produções que partilha como quem divide o pão. Assim faz sem rodeios, porque aprendeu desde menina o sentido da mesa posta e das pessoas ao seu redor.
Conversamos de tudo e tudo tem lugar, porque nos une uma história de filhos pequenos e profissões iguais. Nada como peixe na água quando falamos de crianças, rasgando a formalidade e impondo uma pedagogia de indignação. Informal. Criativa. De descoberta. Porque se descobriu noutros mundos e noutras gentes, em mercados e bairros, com lenços de cobrir e destapar emoções, danças de salão e de rua, é eclética e pertence a muitos continentes. Gosta de francês e Édith Piaf, por lá andou em tempos de menina e moça.
Já a vi zangada e triste com o mundo. Nessas alturas esconde-se numa concha bem fechada, entra e sai dos lugares em silêncio, resguarda-se de eventuais desilusões, não lida bem com o azedume de gente amarga. E não poupa discurso em tempo de desnudar verdades. Direta e repentinamente. Não conhece dialetos para amansar aparências. Endurece.
Por agora, anda de bem com a vida, redescobriu o sentido da profissão e do amor.Sentamo-nos no sofá e os olhos brilham, as palavras partilham-se, uma espécie de universo feminino fica em nosso redor e faz colo para o correr das palavras, justas, vivas e autênticas.
Esgravatamos sentido para o que acontece e fazemos acontecer. Apoiamo-nos. Este é o sentido da amizade.
Obrigada Manela. Revejo-me nos teus olhos e nas tuas palavras escolhidas com delicadeza e ternura.
ResponderEliminarA ternura com que revelas alguém que te é querido é algo raro, como tu.
ResponderEliminarPalavras "justas, vivas e autênticas"! Sabe tão bem passar por aqui....beijinho
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ResponderEliminarUma das coisas boas da vida é dar e receber palavras, com os olhos a brilharem... muito bonito este teu texto. Eh eh eh... já criei o hábito de ler o que escreves. Identifico-me com a tua forma de escrever, honesta, forte e verdadeira. Parabéns, Manuela.
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