sábado, 16 de agosto de 2014

Submissão

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj_E9n0Mpcd_NMmNdPz4Oc8OxFSsYjxzX1qFtW7N3UVP9hOICoycZI6nwXSquyZ-S3k2ZVHqvyg0gS6O7UgUMGq-ILQncCFTGniiLbFREcmFSGt3IVn-ZWBZZv77UcjhYhRKuiGnvwXGRBz/s320/sombras+3.jpgEm silêncio, vigiava-lhe o sono nas madrugadas, as inquietações e os desejos, o cabelo grande e as calças curtas. Discreta, espreitava pelo postigo o seu regresso e com o tempo aprendeu a não esperar que voltasse. Às vezes surpreendia-se com um regresso breve em dias não contados, quando as noites pareciam feitas para aceitar derrotas. Amava a sua eloquência, conduta e os aromas novos de outros mundos, escritos nos seus olhos de procurar estrelas. 

Queria partir junto, mas a razão contrariava cada tentativa, amordaçando a coragem e a ousadia. Ficava-se pela penumbra e sombra, nunca se atreveu a gritar alto o querer do amor. Foi assim o tempo todo e foi assim que ficou refém de cheiros e promessas. 
Nunca se cansou deste papel, não lhe ouviram lamentos ou desabafos em tardes longas de tédio. Muito mais tarde, uma saudade longinqua ainda vinha acordar lembranças desfocadas de uma vida oferecida. Sem retorno. 

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