domingo, 17 de agosto de 2014

Estrela do mar

Olhos claros, cabelos louros com caracóis e ar levemente sério, terá cinco, seis anos, brinca na areia e corre junto da água, rindo e saltando. Pára muitas vezes para olhar o mar, em silêncio, ou palmilha a areia a trautear uma canção, em jeito distraído, embrulhada na toalha.

Nas suas deambulações viu a nossa estrela do mar e aproximou-se, curiosa. O rosto adocicou, fez um ar espantado e baixou-se, perguntando se podia ver. Dissemos que sim e ela mirou-a, indagando se estava viva e comentando a sua beleza. Em dada altura, disse é frágil, tem que se ter cuidado, se não partem-se alguns dos seus bicos. Explicámos como a iríamos transportar, com cuidado e atenção. Depois disse-lhe ainda que a ia levar para mostrar aos meus meninos da escola, para eles verem e conhecerem uma estrela do mar. Uma jovem da sua familia, que se tinha aproximado, disse que isso era giro, se não as crianças apenas conhecem dos livros e isso é menos interessante. A menina com ar muito compenetrado exclamou ah eu não!... eu conheço mesmo muitas estrelas do mar. A sério.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsoSujfbCHvIB_w_4toHF9YeCp9xnnArlnC_kDH5bmuS-b-hWhMfK0OwTMHcmi5ecqVcnEJ9PlKqX4f3YUxJDI3Q1sgVUX7qU0ZyjJm6guRiPR5MqVlP_imAXAiXUs7Ioit8r_1EDJAoS4/s640/post+1b.jpgO resto da manha passou-a a tomar banho, a arbitrar um jogo entre adultos, a participar em corridas para depois mergulhar, a passear sozinha com canções em surdina... e visitas à estrela do mar. Em silêncio. Numa das vezes falou e disse, olhando-nos vim ver se estava mais frágil. Não sei...Espero que não. E foi contar à familia, que a ouviu interessada. 

Eu também espero. Quero mesmo levar esta surpresa para os meninos e as meninas da minha sala. Fazer-lhes uma surpresa e falar-lhes das férias. E contar-lhes esta história da menina curiosa, princesa da sua vida, autónoma e segura, com gente à volta que lhe concede tempo e liberdade e participação nos eventos de férias, em pé de igualdade com os crescidos. 

Não sei se direi esta parte, talvez invente outros enredos, a constatação fica para mim, para que não me esqueça de como a infância pode e deve ser um tempo de corpo inteiro, respeitado e valorizado. 
Em todo o tempo e lugar(es). Em férias e na praia também.


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