Sol, muito sol e um mar imenso. Pleno, visto aqui da varanda, em forma de meia-lua. Já cá estou e já não pergunto, como fazia o meu filho mais velho, quando era pequenino "mãe, quando chegamos às férias?" cansado das viagens de carro. Um sorriso de satisfação e alegria, enormes corridas quando chegávamos. Eu não corro, movo-me mais ao sabor de um tempo lento, respiro e descanso. Já não pergunto pelas férias. Ei-las.
Mas faço perguntas, de mim para mim. "O mar envelhece?", perguntava hoje de manhã, na praia, a mesma que deixei há um ano, e vou deixar daqui a uma semana, como acontece todos os anos. Olhava a espuma, admirava o azul transparente e por mais que observasse, não via rugas nem qualquer manifestação atipica que fizesse acreditar que o mar, este mar que visito há cerca de dez anos, estivesse mais velho. Nem a areia, nem a côr do céu, nem a brisa do mar. Tudo familiarmente igual. Belo e certo.
"O mar envelhece"? voltei a pensar, a olhar em volta, cheia de imagens na retina e no coração. Os rapazes mais novos, ainda a darem mergulhos no mar e a pedirem o lanche e a sairem com os amigos, à noite. Corpos dourados do sol, areia pela casa, chinelos e calções fora do lugar. Barulho e algazarra, movimento e alegria, juventude e amor vivido. Abraços e beijos, cheiros e aromas.
"O mar envelhece?" creio que a verdadeira pergunta não era esta, nem sequer era uma pergunta, mas uma afirmação, uma constatação, cheia de saudade. A ideia e a realidade dos anos que já passaram, dos ganhos e das perdas, das presenças e das ausências. Do que foi e do que é, do que passa e do que fica. Sem apelo nem agravo, sem paragens, tal como o ir e vir das ondas do mar. Imparavéis e constantes. Sempre.
"O mar envelhece?" e assim andei toda a manha, sem dizer nada a ninguém, com medo de ser ridícula e infantil ou cismada, como diria a minha mãe. E sem a liberdade do meu filho mais velho, que na sua inquietude e exigência expressava em voz alta as suas necessidades, em forma de pergunta "mãe, já chegámos às férias?"
"Sim, já chegámos, apenas eu, o pai e uma amiga. Tu e o mano não estão cá. E eu gostava. Para ver e apreciar os anos do mar.
Filhos, o mar envelhece?"
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