quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Encosta-te a mim

Faz como diz a canção, encosta-te a mim. Doce e convictamente. Começa lentamente a retirar as cicatrizes que cobrem a tua pele interior e turvam o teu olhar. Não é fácil, eu sei, mas procura um bálsamo morno, com cheiro a rosmaninho,  passa por cima, à volta e ao lado com muito cuidado, as cicatrizes ramificam com uma força vertiginosa em todas as direções. Tem que se ser meticuloso e persistente. Quase cirúrgico. E focalizado. Tratar das cicatrizes é dificil.

Mas encosta-te a mim, sei que vai ajudar. Olha por cima do meu ombro, talvez alcances a linha do horizonte e uma alvorada de palavras certeiras, para renovares o dicionário com que lidas com a vida. Vê de que são compostas, mede-lhes o sentido e o alcance, pressente o seu significado, não te preocupes com as regras da gramática, não é por aí que acederás ao decréscimo da dor e à restauração da alegria.

Encosta-te a mim, não fujas ainda, este empreendimento é de longo alcance, uma quase corrida de fundo. Por isso, encosta-te a mim, o que fazemos em conjunto tem força renovada, respira lenta e profundamente, descansa. Ouve todas as canções, lê todos os poemas, aprecia todas as obras, deixa que a inspiração de outros te contaminem. São poderosos antítodos na remoção do desalento e na cicatrização das feridas. 

E acredita. Acredita que o coração é como uma árvore. quando quer, volta a crescer (Mia Couto, provérbio moçambicano)

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