Foi sempre assim. Chegava o mês de setembro e a descida do sol apaziguava o corpo e a alma, as praias ainda visitadas devolviam uma solidão com paz, parecia que tudo se aquietava para dar lugar a um silêncio desejado, contrariando os ruídos imensos dos meses anteriores de verão. Não que o verão fosse um tempo de deitar fora, mas apenas se prolongava em demasia: sol, mar, calor, areia e água salgada, noites longas e amigos e gargalhadas. E sentia-se a vontade de um certo recolher, ficarmos menos cheios dos outros e mais perto de nós. De uma certa essência.
Foi sempre assim e continua a ser. Outubro e novembro devolvem-me sempre as cores e os frutos mais belos, folhas de multiplas tonalidades de castanho, amarelo e laranja, ligeiros ventos que fazem dançar as árvores, a chegada do frio, de mansinho, a obrigar a abrir as gavetas e a procurar o agasalho quente que faça subir o calor do corpo. E tudo se torna mais doce e morno, menos gritante, menos luminoso, mais aconhegante. Acho o outono belo e inspirador.
Quando estava com crianças, em sala, o outono era um desafio tremendo. Corriámos para a mata, e recolhiamos paus, arbustos secos, caruma, pequenos troncos, folhas, muitas folhas. De tamanhos, formas e cores diferentes. Depois era um fazer de produções: pinturas, colagens, composições diversas com materiais naturais. E a sala ficava invadida de outono, com amarelos, castanhos, verdes escuros e claros...árvores só com troncos, grandes e pequenas, folhas decalcadas e recortadas...o outono na sua expressão maior. Ficava sempre deslumbrada e as crianças também. A magia estava em nós, claro. Na forma como investiamos as cores, os sentimentos e a expressão.
Hoje, no outono, continuo a deslumbrar-me com as cores e as formas, o início do frio, o sossego do tempo e a possibilidade de hibernar, tocando de perto o aconchego de mim. Com uma certa nostalgia à mistura e imagens que sempre me acompanham e tornam o mundo muito mais belo.
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