Persegue-me um desejo de coisas belas. Belas e profundas, essenciais. Sempre esta teimosia mansa de virar do avesso algumas coisas da vida, os gestos desconexos, as palavras cortantes, a ausência do amor, os risos tristes, algumas máscaras que usamos, frias e opacas. Deitar fora os desperdicios de nós, aquilo que não interessa, que enferruja e impede, que retarda e imobiliza o poder da criação.
Persegue-me um desejo de coisas belas. Imagens que trago na cabeça e nos sentidos, mãos esguias num piano, um lenço a esvoaçar leve, um afago, pequenos passos de dança, poemas soltos, algumas gargalhadas frescas, um longo café forte numa esplanada de uma cidade. Bonita, de preferência, pode ser Paris, no "Les Deux Margots", era aí que se encontravam o Sartre e a Beauvoir, os meus heróis de adolescente. O amor eterno e livre. A escrita como lastro, cama e contestação.
Persegue-me um desejo de coisas belas. Não, não são as luzes de néon da cidade prometida, os objetos de catálogos que decoram montras perfeitas, o desfile da modelo mais jovem e sensual da moda. Não é o ouro ou a prata, que reluz e ofusca, mas antes o incenso, o mais belo dos presentes dados na noite de natal ao menino.
Persegue-me um desejo de coisas belas. E não são coisas de outra dimensão, etéreas ou paradisíacas, apenas que possam traduzir o essencial de nós, estampado no rosto do comum dos mortais. Mas somente naqueles que se encantam com madrugadas frias, noites de luar, vozes de crianças, conversas de amigos, amores maiores, ideias novas, liberdade e ousadia.
Persegue-me o desejo de coisas belas. Tão belas que ficam sempre incompletas
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