quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Ainda é cedo

Hoje o dia começou cedo e terminou tarde. Pelo meio, ficou cheio de vozes de meninos e meninas, desenhos e pinturas, brincadeiras, alguns zangas, amuos e tristezas. É assim sempre que se começa. A expectativa misturada com receio, a alegria com umas lágrimas, os silêncios com vozes altas. Entrar numa sala e aprender a morar nela demora e faz-se por múltiplas tentativas, avanços e recuos. De mansinho ou apressadamente, conforme somos mais ou menos ativos e calmos e serenos e ruidosos.

Penso nas crianças e tento imaginar o que sentem, estranhos que estão daquele espaço e dos adultos que nele encontram. Penso nas famílias e sinto-as simpáticas, receosas, expectantes, distantes, desconfiadas e disponíveis. Em vinte e cinco famílias, temos muita diversidade. Ainda bem. As crianças também são assim, algumas já correm de manhã para me darem abraços e risos, outras ficam encostadas à parede, a observar, inibidas, outras choram e protestam. Em voz alta e com movimentos fortes.

E eu que de educação sei alguma coisa, falta-me a serenidade completa para lidar com o desconforto da adaptação. Porque é disto que se trata. O desconforto daquilo que não conhecemos, a necessidade de criar vínculos que apenas se constroem com o decorrer do tempo. E o tempo decorre não como queremos, mas segundo um ritmo próprio. Podemos até ter a tentação de o apressar, queimar etapas, fazer avançar a lentidão que marca qualquer criação de laços. Como diz a raposa para o principezinho "Tens que ter paciência, primeiro sentas-te longe de mim e olhas-me para pelo canto do olho...". Na minha sala estamos quase todos a olhar pelo canto do olho! Apenas nos conhecemos há três dias, não admira.

Mas tenho a ideia - ainda que não o digamos -  que queríamos todos lá na sala, grandes e pequenos, olhar cada um de frente e com isso, ter o conforto da familiaridade, da segurança e do bem estar. Saber extamente o que cada um é, sente e sabe.  Sei que ainda é cedo e o caminho apenas agora se inciou. Teremos que continuar a mobilizar a nossa paciência, investimento, cuidado, atenção, pelo meio das coisas que vamos fazendo e dizendo uns aos outros
 Havemos de lá chegar, crianças e adultos  

12 comentários:

  1. Muito Bom. Gostava de ter sido eu a escrever. É que, sendo Educadora de Infância, estou a vivenciar e a sentir exactamente o que estas palavras Dizem, de uma forma tão objectiva e clara.
    Faço minhas as suas palavras.
    Obrigada. Gostaria de usá-las.... Posso?
    Isabel

    ResponderEliminar
  2. Obrigada pelo seu comentário e por dizer que está a viver o mesmo. Assim ficamos menos sós! Se pode usar estas palavras? pode, elas são (estão) publicas.

    Um bom ano para si

    ResponderEliminar
  3. Traduzes de uma forma tão bonita,especial e clara o que te vai no coração...continua a escrever porque tens imensas pessoas a "seguir" o teu blog. Gostei muito deste texto...estava a ler e a "ver" a tua sala cheia de meninos, cheia de vida...força amiga...

    ResponderEliminar
  4. E eu sou uma das amigas da Teresa Matos, colega de profissão, que acompanha os textos que vai escrevendo, cara colega.

    É bom ver aquilo que sentimos traduzido em palavras desta maneira.

    É bom sentir orgulho em ser, também, educadora.

    Bem haja... e continue!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. E eu Juca, sou a educadora que esteve na APEI, trocámos emails par uma formação a ser realizada por si, sobre artes, lembra-se? Agora regressei aos meninos e meninas e a escrita, que significa tanto para mim, neste momento é uma estratégia para aquietar receios e sobretudo pensar. E o que eu tenho pensado! obrigada por ler e comentar. Sinto-me mais acompanhada
      Bom ano!

      Eliminar
    2. Olá Manuela, não sabia, mas gostei muito de saber!
      Agora que sinto que a conheço um bocadinho... fico ainda mais orgulhosa por ser educadora e por haver educadoras assim!
      Vamos crescendo assim, em boa companhia!

      Bjs, Juca

      Eliminar
  5. Já gosto tanto de a ouvir e agora posso também gostar de ler o que escreve...Obrigada pelas palavras que expressam tão bem aquilo que sentimos no inicio de cada ano letivo!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá, Sofia...ainda bem que há mais educadoras a sentirem o que eu sinto! Bom ano para si...

      Eliminar
  6. A leitura destas palavras "sábias" teve um efeito de bálsamo para as angustias de um inicio de ano...

    Bem haja!!!

    ResponderEliminar
  7. O sentir desta semana, tão bem retratado... Obrigada pelas suas palavras que tão bem descrevem o que senti nesta primeira semana junto dos meus futuros companheiros de viagem por mais um ano letivo...

    ResponderEliminar