quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Raízes

Não se ensaiam para dizer o que pensam e na ponta da língua têm um discurso pronto e rápido, ainda que limitado ao que da vida receberam como herança. Mantém  a cabeça fora de água, numa teimosia meia infantil, tentando reter a linha do horizonte ou a passagem de um barco para o outro lado da margem. Esbracejam sem parar, gritam, não dando tréguas a águas mornas. Duvidam da mansidão do mar, habituados que estão às ondas traiçoeiras que lhes sacudiu a vida. 

E da vida conhecem as horas dos dias lentos, que enchem sem parar, num ativismo desordenado, para enganar o desejo de um outro futuro. Vão e vêm num território prescrito, dele fazendo campo de batalha, arraial de verão, casa de família, laços de vizinhança. Amarram nós entre o corpo e o mundo, que é seu por direito, ainda que pareçam homens e mulheres livres de qualquer compromisso. E no entanto estão presos e ancorados às marcas que trazem na memória e em vestígios que apresentam um pouco por todo o lado.   

Já foram crianças e já tiveram infância, a deles, que ficou esquecida e no entanto não apagam das rugas, olhares, gargalhadas e palavras que arremessam sem pedir licença. Doa a quem doer. E assim se afirmam, e assim se revelam, sem pruridos ou falsas lamentações. São o que são, pela força do que foram e do que receberam.

Tudo isto pensei e agora escrevi no final de um dia de trabalho e de uma reunião de pais, lembrando um título de um livro "há muitos mundos no mundo", de Catarina Tomás.


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