Abri as mãos ao tempo e sorri devagarinho. Sem medo percorri quilómetros de estrada sem sair do lugar, paisagens verdejantes, alguns montes e vales áridos, pequenas estepes com terra solta, alguns riachos para matar a sede, tufos de silvas e rosas bravas, praias rochosas a perder de vista. E não saí do lugar. E no entanto, viajei convicta em caravelas de sonhos, lancei as redes ao mar, procurei garrafas com frases escritas e descansei em algumas planícies, em tardes escaldantes sem ponta de vento. Em vão te procurei. Não te vi.
Consultei relógios para ver se chegavas e os minutos pareciam horas e as horas, dias sem fim. Consultei a agenda, livre estavam os dias de compromissos e encontros, alguns números rasurados, reuniões adiadas e outras esquecidas. Em vão te procurei. E não te vi.
Fui a portos e estações de comboio, anotei horários de chegadas, abri mapas de países e cidades, Paris quem sabe, ou Varsóvia, exposições e eventos, gente a entrar e a sair, cultura e lazer, gastronomia, outras gentes, outros olhares. Em vão te procurei. E não te vi.
Cansada de não te encontrar, fechei as mãos ao tempo e sorri devagarinho. Coloquei-me no dia certo, e no lugar adequado e lá estavas tu. Tal e qual eras e és, gente boa e amiga, que não sai de cena por qualquer motivo, nem percorre quilómetros de estrada à procura de coisa nenhuma.
Eu já devia saber que não abandonas o teu lugar, ainda que às vezes não se dê por ti. Porque razão teimo, de vez em quando, em te procurar onde jamais estarás? Esta mania secreta de inventar novas geografias.
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