domingo, 30 de dezembro de 2012

Monólogo em final de ano

Adivinho-lhe o coração. As penas e as dores. Os sonhos sonhados no silêncio do quarto, as lágrimas a correrem pela cara, a raiva contida, o medo de falhar, ver-se ao espelho e achar-se nada. Adivinho-lhe a tristeza, por detrás do rosto simpático e do riso doce. Adivinho porque sinto, adivinho porque conheço, adivinho porque sei.

E é isto que vamos fazendo ao longo dos dias e dos anos, ensaiando leituras silenciosas de nós e dos outros, porque nem tudo se pode dizer com palavras e nas coisas mais profundas, às vezes vale a pena silenciar. Eliminar as conversas, quantas vezes fonte de mal entendidos, magoam mais que consolam.
E ficamos assim, entre o sentir e calar, a deslizar devagar por entre os dias que correm e as noites que se alongam, dizendo e desdizendo, face à vertiginosa e surpreendente realidade da vida.

E por aqui estamos, à espera de um novo ano, que apenas vai ser novo porque o investimos recatadamente e em silêncio, de mil desejos e promessas. Sem contar nada a ninguém. E muito para além das passas, das badaladas da meia-noite, do brinde com champanhe.

Para além disso, fica tudo o resto, que é muito, que não sabemos dizer em palavras e que guardamos no nosso coração. Como o único lugar possível e seguro para guardar segredos. E monólogos.

3 comentários:

  1. "fica tudo o resto, que é muito, que não sabemos dizer em palavras e que guardamos no nosso coração. Como o único lugar possível e seguro para guardar segredos."
    Mas tu sabes guardar no coração, escrever e partilhar...de uma forma muito especial...
    BOM ANO 2013...

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  2. Guardar no coração e em segredo muitas vezes é uma consequência, uma obrigação, não uma opção. Mas somos todos assim, cheios de "outras coisas" que fazem a nossa identidade e a nossa realidade, para além do que mostramos e damos a conhecer`. Para além da face publica.
    Bom ano também para ti
    Abraço

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  3. Sem tirar nem pôr. Fica o resto, ficamos nós e o vazio. Gostei muito.

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