quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Olhar o tempo

É uma coisa engraçada o passar do tempo. Engraçada e singular.  Estranha, se nos detivermos com tempo.
Não damos por ele durante muitos dias da nossa vida, há até uma altura em que o sentimos longo e muito lento, preguiçosamente atrevido, gostoso,  a lembrar as  tardes de verão, quentes e compridas, com relógios de ponteiros parados que ajudavam as brincadeiras a estender-se pela noite dentro. Nessa altura não o sentíamos, estávamos presos e embrenhados a caçar borboletas,  seguir carreiras de formigas ou a dizer "partida, largada, fugida" e correr felizes pelo meio das searas de trigo. Um tempo quente. Queríamos lá saber se ia ser segunda-feira, todos os dias se apresentavam como uma possivel eternidade. Crescíamos a cada minuto, mas o tempo era coisa menor, coisa pouca, variável não equacionada.

Tínhamos também os momentos da impaciência do tempo, sim, mas como coisa presente, de momento, um entrave para o desejo e a necessidade, aqui e agora: o comboio que atrasava o encontro do amor, aulas de madrugada que impediam o prolongar doce do sono, a espera ansiosa da matiné ao sábado. Ou o abrir das prendas do natal, em dezembro. Findo isso, consumada a necessidade, o tempo deixava de ter a urgência que lhe tínhamos dado, para voltar a ser de muitos outros ritmos. E ríamos, de curiosidade e surpresa quando os mais velhos, (mesmo muito mais velhos, pensávamos nós) diziam "aquele rapaz da minha idade, do meu tempo". Rapaz?   Do tempo? Qual tempo?

Depois, subitamente, sem se saber como, o tempo a correr veloz.  A fugir, a escorrer sorrateiro numa avalanche de dias e horas, semanas, meses. O tempo sempre adiantado, o tempo sem nos dar tempo para nada, nós a tentar detê-lo, a puxar os cordelinhos da lentidão, a querer as tardes longas e os relógios parados. O tempo como variável equacionada, o tempo contado ao minuto. Para sair de casa, para fazer o jantar, para levar os filhos à escola, para tomar um café, para fazer uma reunião, para ter uma conversa boa, para gostar, para sentir que não há tempo. Tudo a correr, mês após mês, ano após ano.

E de repente, sem saber como, aqui estamos nós.  Frente ao tempo, com falta dele e adultos. Muito adultos. Contaminados pela ideia que mil ocupações apressadas são condição imprescindivel da vida.  Aqui estamos nós, onde chegámos. Razoavelmente cansados, razoavelmente crescidos, razoavelmente lúcidos, razoavelmente bem sucedidos, razoavelmente envelhecidos. Lutando contra o tempo, porque ainda temos uma razoável necessidade de fazer muita coisa.  E tempo?
E se por acaso olharmos demoradamente para uma fotografia nossa, veremos com absoluta nitidez o passar do tempo. Como hoje aconteceu quando uma amiga me mandou uma fotografia.   

 

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