domingo, 9 de dezembro de 2012

Natal

Hoje lá me convenci a mexer no natal. Mexer, sim, ir buscar as caixas e os sacos e começar a desembrulhar tudo o que foi guardado o ano passado: presépios, bolas e estrelas, sinos, laços, velas, renas, ofertas dos meus filhos quando eram pequenos, feitas no no jardim de infância e na escola. Postais de amigos,  votos natalícios, alguns textos bonitos que me deram. Guardo tudo até hoje.

Já é tempo de mexer no natal, aqui em casa, sim, é dezembro. Mudar a toalha e a camilha, ir buscar a árvore de natal e começar a enfeitá-la, colocar o veado na porta, acender algumas velas  apenas para ver o efeito, olhar de longe, sorrir com o calor dos vermelhos e a beleza de alguns espaços, pensados ao milímetro. Recuperar esse prazer de renovar a casa com cores, luzes e azevinho.

Já é tempo de mexer no natal, ainda que sinta a falta da minha mãe, atarantada sem saber para onde se virar, mas a sorrir de contente, alegre e bem disposta e o ar sério do meu sogro, quando na cadeira de rodas me dava do regaço, um a um, o que eu lá tinha posto, para que também participasse. E participava, às vezes até dizia o lugar onde eu devia colocar as estrelas. Era habitual: a sua opinião nunca coincidia com a minha, ele escolhia sempre um tronco diferente. Eu fazia-lhe a vontade. Entendiamo-nos por gestos e afeto.

Já é tempo de mexer no natal, ainda que os meus filhos sejam já muito grandes, homens feitos, e eu tenha saudades da sua curiosidade e excitação de meninos, na procura das prendas. Da impaciência com que esperavam pela noite, eles e os primos. Agora já não é preciso aquietar-lhes a agitação, ficam serenos no sofá da sala, ao pé da lareira acesa, a conversar. Gente grande é o que estão.  

Já é tempo de mexer no natal, ainda que de facto a energia não abunde. Mas julgo que não será difícil. Se pensar bem, coloco tudo mais ou menos como estava o ano passado, com cuidado e atenção. Depois olho de longe e acho que vou gostar. E depois arrumo as caixas e os sacos que ficaram vazios e guardo-os numa gaveta. De uma assentada só aproveito e coloco lá dentro também alguns pensamentos e ideias que andam por aqui perdidos e que impediram que até hoje mexesse no natal.

Sem comentários:

Enviar um comentário