Já foi natal. Já pusemos a mesa com a toalha vermelha e os pratos mais bonitos, acendemos a lareira e as velas, pusemos musica, sentámo-nos à mesa com os nossos, bebemos um bom vinho, conversámos e rimos. Deambulámos por pequenas histórias, enredos da infância e de outros natais, acertámos as contas dos afetos, emocionámo-nos por ser quem somos e podermos continuar à volta da mesa, a servir o jantar, a comentar este ano os sonhos estão muito bons, a falar um pouco de futebol, claro que o Mourinho vai sair do Real Madrid...da crise e das questões sociais e de este país já não tem nada para dar, vamos mesmo é para o estrangeiro...
De vez em quando em silêncio, com as vozes alegres e joviais como musica de fundo, um pouco atropledas e sobrepostas, perguntámo-nos por aqueles que não estavam à mesa, mas que víamos, de forma nítida e clara, por detrás de um ombro ou de um rosto sorridente, perto da lareira ou junto do sofá. Ali estavam, sem corpo presente, mas ocupando o seu lugar, porque quem já esteve entre nós jamais desaparece por completo. Deixa-nos sempre um raio de sol ou luz, um cheiro, uma frase, um sorriso que em noites de natal, irrompem a qualquer hora e lugar, sem pedirem licença, para se apresentarem tão reais quanto podem ser as memórias do amor e dos laços.
Já foi natal. Já nos encontrámos mais uma vez no centro da casa, com aqueles que amamos e que nos cercam, trocámos presentes e lembranças, numa maneira convencionada de mostrar o amor e a alegria da sua presença perto de nós. Selámos cada oferta com beijos e abraços, suaves, quentes e fraternos, como linguagem certa e única de nos termos ainda uns aos outros e de isso ser de facto, a prenda mais desejada de cada natal e de cada dia.
Já foi natal e já se cumpriu a tradição. Resta-nos acreditar e fazer fé que vamos de novo viver o natal para o ano, outra vez perto uns dos outros, com a alegria que soubermos e pudermos trazer novamente para o centro da sala. E isso, como todos sabemos, não é coisa garantida.
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