É sábado. Apetecia-me pôr a mesa para o pequeno almoço, como às vezes fazia, a tolha verde seco, uma taça com morangos, pão de sementes e requeijão, doce, cereais, sumo de laranja, as chávenas para o café, no fim. Ir compondo tudo devagar na mesa, ajeitar de novo o sitio das coisas, para tudo ficar bonito. Comprovar que assim era, distanciando-me da mesa e olhando de longe. Outra vez. E com o sol a entrar pela janela, como hoje está. Apetecia-me depois que se sentassem à mesa, cada um no seu lugar, com gestos leves e flexíveis, os olhos sorrissem a olhar para as iguarias, assim consideradas pela fome de comer e começar o dia. E ficaria a vê-los cortar o pão e barrá-lo com doce e requeijão, misturar o iogurte com os cereais, abrir e fechar o jornal, combinar coisas para o dia, rir de uma graça da noite anterior...ficar a vê-los, as palavras ainda com sono, os gestos lentos, os rostos iluminados, aos poucos umas gargalhadas mais soltas e fortes.
E sairia para tomar o meu café, como hoje fiz, sem que uma saudade inconveniente viesse bater-me à porta e entrasse, devagar, sem ter pedido licença e sem que eu tivesse consentido. E sem me sentir piegas e pouco ajustada aos tempos que correm.
Então, em tempo de crise, a menina sonha com uma mesa assim? Não lhe chega o leite com café e uma torrada com manteiga?
Vá contente-se, o tempo é de crise, nas iguarias e nos sonhos, seja modesta e poupada. Comporte-se e conforme-se, sua guardadora de desejos pouco sensatos...
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