domingo, 8 de novembro de 2015

Fragmentos da semana...

A semana terminou com pipocas e alegria. Também viveu dela e por ela, em conflito com momentos paralelos de zangas e choros. Assim nos vamos fazendo aqui, neste lugar, cheio de coisas boas e outras nem por isso. Mas não há como contornar a contextualização da pedagogia.

A semana andou à volta do que planeámos em conjunto e situações que vinham da semana anterior, tentando firmar a identidade do grupo como motor de compromissos e projetos. É um caminho lento, já o sabemos, com avanços e recuos, onde cada um aprende o seu lugar e o sentido de ser um entre muitos. Fizemos parte do que combinámos e mais parte do que surgiu, permeado pelos momentos de conselho (de manhã e à tarde), como espaços de partilha, reconhecimento e validação do nosso viver em comunidade. E outros conselhos, reuniões de urgência, porque a regra é quando alguém chora, está triste ou há uma zanga temos que parar e dar atenção. E ouvir e resolver. E porque amuar, não resolve vida, nem os problemas. Já todos sabem disto e agem em conformidade.  E sentem-se seguros com esta maneira de fazer, explorando-a até mais não.

http://sounoticia.com.br/wp-content/uploads/2014/03/outono2010_f_010.jpgContinuamos com dificuldade de acertar as nossas ideias com as dos que nos rodeiam, pais mães, famílias. Entra-nos pela porta a vida de cada um e a vida da comunidade, cheia de matizes e expressão, cheia de direitos e perspetivas. Nesta semana os pais do I. zangaram-se muito com um menino mais velho, do 1º ciclo, que teria batido no seu bebé. Foi difícil e tenso, palavras com gritos e afetos gigantes, explicações e escuta...e lá se resolveu. Não sem algumas implicâncias no quotidiano e na interação entre famílias, meninos e meninas, desenvolvimento do currículo. A diversidade dos pontos de vista em ação e nós a mediar.

Nesta semana a M. criticou-me e zangou-se, disse até não quero vir mais para a escola, tu não me dás colo e andas sempre ocupada com os outros. Refutei a ideia e disse que não conseguia dar-lhe o colo que ela queria, mas que dava o que podia. Chegámos a consensos, julgo, depois de muitas falas e demonstrações e lá para o final da semana fui presença num sonho que teve, com festa, e nós duas e a T. vestidas de princesas, com vestidos cor-de-rosa até aos pés. A mãe, que não vive com ela, também esteve no sonho, a dormir noutro quarto. Os meninos que nos precisam para adoçar, esgrimir e tentar resolver parte das suas inquietações e medos.

Nesta semana também, o A. implicou-se mais na dinâmica conjunta e foi capaz de realizar um projeto de trabalho, dando forma a um barco, em volume, feito de folhas secas muito grandes. Cola e arame, mar para o barco navegar, areia e ondas, duas bandeiras de sucesso e conclusão. Foi bom e foi gostoso, para este menino que estando em todo o lado e lado nenhum, precisa de um apoio afetivo e efetivo para projetar, realizar e concluir as suas ideias.

O conselho de final de semana não foi fácil de gerir. A coluna do não gostámos completamente cheia de problemas, um tempo longo sem fim à vista, meninos e meninas cansadas e já desligadas da situação que deu origem à escrita. A A. mantendo a recusa em tomar a palavra, negando com movimentos de cabeça, que empurrou e bateu, fechando-se num silêncio difícil. E nós a tentar construir um espaço de discussão que na cabeça de muitos parece ser de acusação. Sem saber, muitas vezes, como apoiar e mobilizar estratégias. Os secretários a fazerem o seu papel com entendimento e postura organizada, foi bom de ver.

E no fim da semana, a mãe do M., menino de 3 anos que iniciou a escola há pouco tempo, a partilhar que ele tinha dito em casa que temos uma coisa, assim para escrever, que gostamos e não gostamos e não podemos bater...e lá fomos mostrar o diário, contentes por esta partilha e esta desocultação do modelo. Foi também bom ver duas famílias descalçarem-se pela manha e apoiarem os filhos na marcação da presença. 

Assim vamos andando, com alegria e preocupação, persistindo nos princípios e instrumentos que nos ajudam a crescer em companhia, jogando entre o eu e o nós, tentando construir espaços de democracia e inclusão. Aguentando e dando sentido aos múltiplos fragmentos diários que nos desafiam a criatividade, a tolerância e a persistência. Em alguns dias, um leve desânimo que foge rápido quando escrevemos e pensamos na vida destes meninos e meninas, pequenos, fortes e frágeis. 
Vamos lá para mais uma semana...

2 comentários:

  1. Vou partilhar no facebook, mas quero colocar aí a minha filha...
    Achei especialmente maravilhosa a parte: "quando alguém chora, está triste ou há uma zanga temos que parar e dar atenção. E ouvir e resolver. E porque amuar, não resolve vida, nem os problemas."
    Continuação de bom trabalho e de bom domingo!

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  2. Estes meninos amuam muito, acho que é um traço até desta comunidade. temos que dizer muitas vezes, amuar não resolve vida...e isto está dando resultados!
    obrigade pelo comentário. Bom domingo, também...

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