Procuro-te.
Lenta e eternamente, procuro-te.
Nas manhas frescas e nas gotas de orvalho, nos esboços da casa que tarda a chegar, nos bocados de musgo na mão do menino que sonha o presépio.
Procuro-te. Nas bolas de sabão que fogem no ar, na madressilva do caminho para o beiral, no verso do poeta que não se deu por vencido.
Procuro-te, para que me digas que é possível, provável e obrigatório que a vida seja de outra maneira e que a pobreza não vai deixar frios os pés dos meninos. Nem cobrir de cieiro o seu rosto de espreitar o mundo. Nem enregelar a sua vontade de o colorir e inventar.
Procuro-te. Para que me possas revelar o mistério das dores da alma, as suas manifestações mais escondidas, os seus laivos discretos e presentes na hora de amadurecer. Por dentro e por fora. A flor, o fruto, a árvore, os homens, as mulheres. E as crianças.
Procuro-te. Lenta e distraidamente, às vezes, bem sei. Porque me assalta o devaneio da gente fugaz, coisas banais e não sensíveis, receios e cansaços da realidade crua, portas e janelas blindadas que ninguém se atreve a abrir.
Por isso te procuro. Desvenda-me os segredos da igualdade, a alegria do sol nas vielas escuras dos bairros esquecidos e armadilhados contra o sonho e a liberdade.
Procuro-te.
Diz-me, para que saiba, de que cor havemos de pintar a nossa vida, neste natal. Na rua, em casa, na escola. Com todos os meninos e meninas.
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