Dizem que sim e vêm, tímidas e meio atrapalhadas e os filhos escolhem os livros para que os leiam. Sentam-se ao seu lado e sorriem, porque os seus estão em destaque a construir o currículo e a participar. Com voz e vez. A vez nem sempre é fácil de negociar, misturam-se os dias e as rotinas, as negociações são inúmeras e insistentes, ora este dia ora aquele amanhã não, não posso...e se for à tarde?... E na quinta-feira? E nós a ajustar todas as possibilidades. Não queremos desistir destes fios que nos unem, num território onde estar fora da escola é a regra.
Ao princípio a voz sai trémula, com repetição de frases e palavras soletradas, para em seguida ficar mais nítida e alegre, pelo apoio dos meninos e meninas que escutam, corrigem e explicam. E pela nossa presença e informalidade, que propondo a participação in loco, tentamos que o momento seja aprazível e possa inaugurar outras vindas e proximidade.
Não é fácil. A rotina vira-se do avesso, a planificação anda um pouco ao sabor das dinâmicas das vindas e das idas, uma maior agitação paira no ar, quem vem hoje e a que horas? ainda que tenhamos um quadro de marcações...riscado e rasurado e alterado. E ainda que nem sempre se trate de leitura, porque quem não quer ler, pode contar e conversar. Mas tudo serve e tudo dá jeito, para que a confiança ganhe a dianteira e se apresente como matéria fundamental no quotidiano pedagógico.
Não é fácil, mas é possível. Sobretudo se soubermos conviver com a imprevisibilidade, a diversidade, a fluidez do tempo, do espaço e da organização escolar. Se soubermos priorizar objetivos e estratégias. Se a cada momento, formos capazes de identificar o essencial, abrindo mão das nossas credenciais como especialistas do currículo. Se soubermos deixar cair as metas e alcançarmos a aprendizagem e desenvolvimento em momentos de relação e participação entre crianças e famílias. Como um direito e um benefício para todos e que se adeque às características de quem participa.
Isso exige despojarmo-nos das nossas certezas e saber viver um pouco na corda bamba, com práticas inclusivas, permanentemente questionadas por nós e pelos de fora. Trabalhar de porta aberta é assinar um contrato onde todos podem entrar, com as suas ideias, histórias e modos de vida. Um contrato que exige disponibilidade para entender diversos dialetos, acertar pontos de vista, desculpar modos mais abruptos, sem ceder a fechar a porta, mantendo a nossa profissionalidade e essência.
Não é fácil, mas é possível. Lentamente, com avanços, recuos, paragens. Mantenhamo-nos persistentes, que o caminho é longo e as dúvidas ladeiam-nos todos os dias, como o sol quente em tardes de verão.
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