Quando a conheci vestia de amarelo e foi convincente nas respostas que deu sobre a motivação para ingressar no curso de educadora de infância. Foi assim como auxiliar e professora que cruzámos os nossos caminhos e cedo compreendi que tinha uma mestra da educação e da vida por perto.
As idas à sua sala, o acompanhar do seu fazer pedagógico, deixavam-me muda de espanto, pela criatividade, alegria, sensibilidade, questionamento. Longas horas de reflexão sobre as práticas ensinaram-me a certeza da sua ética, da sua procura e investimento nas coisas da infância. Um amor infinito pelas crianças, uma utopia de querer sempre o melhor, entendendo-se já nessa altura, como profissional da relação e a criança como sujeito de direitos, inserida numa família e numa comunidade.
Mestra nas relações, a sua sala estendia-se até à vila e era vê-la ligeira a ir fazer arroz doce ao restaurante, a cuidar de uma horta no quintal de um avô, a escutar as famílias como parceiros, num terreno nem sempre fácil para a cooperação. Poucas coisas a desanimavam, sabia como ninguém criar laços e atar nós.
Quando se formou, no dia da bênção das pastas, disse-me já deu as notas, não deu? então gostava que fosse à minha casa, comer um bolinho...Assim fiz, com o filho pequeno e o marido a reboque e de novo me espantei. Muita família, mesas no quintal, a festa a celebrar o sonho. Tínhamos então 30 anos.
Depios disso, como diz a canção muita água rolou de baixo das pontes e a nossa amizade manteve-se de pedra e cal. Viva e atual. Noites a preparar reuniões, licenciaturas e mestrados, filhos a crescerem, apoios mútuos, o telefone a tocar à meia-noite, trabalhos até de madrugada, que somos mulheres de pouco sono e muita vida. Discussões, projetos, troca de opiniões, desabafos, jantares e lanches, numa casa que é um convite a entrar e a permanecer. Sempre.
Hoje faz 58 anos e continuamos amigas. Vou estar com ela e dar-lhe flores e beijos. Vamos rir com outros amigos, gente de sempre que com ela partilha os caminhos. E vamo-nos emocionar de alegria e bem-estar pela nossa amiga. Vou voltar a agradecer a sorte de a ter encontrado e de ter sido minha mestra de vida e profissão. De ter confirmado com a sua presença, que os amigos são uma força extraordinária que iluminam os nosso dias e reconfortam as nossas dores. E reforçam as nossas convicções e utopias.
Nunca será demais dizer-lhe do descanso de a ter por perto, por a ética, a honestidade, a inteligência, a sensibilidade, a modéstia, a coragem, a disponibilidade, terem uma forma. A do seu rosto e do seu coração de mulher atenta e solidária.
Obrigada, Luisa, que sorte a minha.
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