Neste fim-de-semana que agora acaba, as palavras deram lugar ao silêncio e aos campos da Murtosa, a terra que te viu nascer e partir. Durante dois dias andei por lá, às voltas com a saudade e as memórias de infância, em retratos antigos de menina de franja, fios de água e luz cintilante, pés pequenos na água fresca, amoras vermelhas a derreter na boca...azedas amarelas para trincar, flores para o jogo já namoras? Quantos namorados tens? e depois mandavam-se as flores à camisola e contavam-se as que ficavam presas...e ríamo-nos pelo numero exagerado de namorados, nós que sonhávamos por um, apenas um...
Alindei a casa, senti o frio da manhã, apreciei o cair da tarde, perdi o olhar nos braços da ria, procurei os flamingos que descansam nas suas águas e desejei que estivesses comigo. Connosco, na nossa casa, a fazer o comer ou a ver a televisão. Ou a perguntar pelo tempo, irá chover hoje?
Talvez vá, sim mãe, aliás já choveu. E eu sinto falta de ver o teu rosto contra o vidro da janela, à procura dos sinais do tempo. O teu rosto real com algumas rugas, moreno, doce e quente. Com o calor da vida que tinhas no teu corpo e no teu coração de mulher e mãe.
Assim te queria e assim te pensei, neste fim-de-semana. Doeu-me um bocadinho. Não há forma de passar esta dor fina e quase sempre presente.
Podemos disfarçar, brincar, correr e cantar muito. Dançar e escrever. Pensar sobre as crianças e o nosso trabalho, ir ao teatro e ao cinema, conversar com as nossas amigas do peito.
Podemos fazer tudo isso e fazemos porque a vida assim se faz. Mas nunca se desfaz a saudade que nos acompanha de mansinho quase todos os dias.
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