Acertar o passo. Um dois, um dois. Respirar. Acertar o passo, de novo, um dois, um dois, ouvir o bater do coração, acertar a cadência e a serenidade, as expectativas, os pés, com firmeza, no chão. Acertar a doçura e a alegria.
Acertar a respiração, com calma, e acertar as palavras, as ideias. Acertar o que tem que ser acertado. Acertar noutro(s) tema(s), e nas mãos teimosas e transparentes, procuram letras do alfabeto e fazem as palavras que agora nascem. Acertar no que me persegue, do qual não sei fugir. Acertar no dar o peito às balas, porque só sei virar-me de frente para a vida.
Acertar nos embates e na construção de dias novos. Acertar na agonia deste teimar, torná-lo mais dócil e temperado.
Acertar os muitos livros nas estantes do sótão, voltar a reler e a pensar. Com entusiasmo. Acertar o espanto que já foi lugar de chegada e agora se mantém em lugar incerto. Acertar as leituras para serem fermento do pão na mesa, todos os dias.
Acertar os amigos. Convocar os seus milagres de tempo partilhado, alimentar-me dos seus conselhos, colo e poiso, nas tardes longas de outono com castanhas. Acertá-los para adormecer num sono tranquilo de quem quer amanhecer.
Acertar as minhas palavras de mãe. Descobrir as mais eficazes para apoiar o crescimento de embondeiros nos quintais dos filhos que fazem casas em terras alheias.
Semear e acertar com o crescimento e a colheita dos frutos do amor.
Semear e acertar com o crescimento e a colheita dos frutos do amor.
Acertar-me. Colocar-me no meio do relógio do tempo que roda sem parar e medir-lhe a cadência e a pulsação. Acertar o meu desejo de primaveras, antes da passagem do inverno. Acertar a paciência e a persistência.
Acertar a pedagogia. Parar a fuga para a frente e acertar o passo. Um dois, um dois, de novo, um dois, um dois. Deixar de querer dar dez passos, medir o tamanho das pernas dos meninos e meninas, olhar o caminho andado, ver o que falta percorrer. Um dois, um dois. Apenas assim, porque é assim que pode ser. Acertar o modelo pedagógico, retirar-lhe o lugar de dianteira, acertá-lo com os modos de vida vivida na sala e em casa. Acertar os risos, as mãos que batem, os colos que buscam, as falas que oferecem.
Acertar as expectativas, acertar o olhar sobre o local. Abeirar-me do que me rodeia e ser apenas compreensivelmente ousada. Acertar as exigências sobre mim e os outros. Acertar e acertar-me.
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