É um menino alto e magro, olhos grandes como as amêndoas e escuros como as noites quentes de verão. Vai fazer 7 anos em dezembro e falava com ele sobre a próxima etapa da sua vida escolar, o 1º ciclo, que vai iniciar noutra escola. Dizia-lhe de mansinho, mas de forma assertiva, muito perto do seu rosto, os cuidados que havia de ter quando em setembro, começasse a escola. Ele ouvia-me, olhos presos aos meus.
- Vais tomar muita atenção, ouvir as explicações da professora, cuidar dos teus cadernos, fazeres com calma o que for para fazer, tu aprendes bem, és um menino interessado, simpático...
Dizia que sim com a cabeça, mexendo na camisa com as mãos, sem desligar o olhar do meu.
- Vais fazer muitos amigos, conhecer uma escola nova muito bonita, brincar muito nos intervalos, vais aprender e divertir-te.....e quando não souberes alguma coisa, pões o dedo no ar e perguntas à professora. E ela explica-te. A melhor maneira de aprender é fazendo perguntas, lembras-te?...vai ser bom e vais ser muito feliz, eu sei.
O menino, sempre calado a ouvir, abriu a boca e disse, com voz baixa
- Só não sei quem me vai proteger...
Parei de repente. E emocionei-me. Pois claro, tinha falado de tudo, dado uma volta com as palavras acerca das aprendizagens formais, aflorei o lúdico e a brincadeira, mas não tinha dito o fundamental para o menino, este menino. Recompus-me e disse:
- A professora, todas as professoras da escola e todos os adultos que sabem que têm que proteger as crianças. Vai ser assim. E se no principio ainda não te conhecerem e tu não conheceres ninguém, vais para ao pé da D. e ela protege-te.
Chamei a menina que também anda nessa escola, é mais velha e por um feliz acaso estava connosco nesse dia e contratualizei a proteção. E ela disponibilizou-se para assim fazer e o menino sorriu.
Chamei a menina que também anda nessa escola, é mais velha e por um feliz acaso estava connosco nesse dia e contratualizei a proteção. E ela disponibilizou-se para assim fazer e o menino sorriu.
Depois foram brincar, a correr e fiquei a pensar no conhecimento que as crianças têm sobre si mesmas, sendo capazes de expôr as suas necessidades e simgularidades. E como isso às vezes é surpreendente e absolutamente claro, como no caso do menino em questão. E como apesar de sabermos, nem sempre atendemos a esta sensibilidade e sentido de si.
Neste dia vim para casa a pensar na minha proteção a este menino e como isso foi determinante para o seu crescimento. Espero também ter-lhe dado asas para voar e força para conviver com os outros e as aprendizagens que hão-de vir. Espero não o ter protegido demais.
A propósito de proteção, um dia destes uma avó contava:
ResponderEliminarNo outro dia estava o A (5 anos) lá em casa e eu disse-lhe, olhando uma imagem de Nossa Senhora:
- Vamos pedir à Senhora de Fátima que te proteja A.?
- Não é preciso avó... - respondeu ele convicto.
- Não, porquê?
- Porque a Juca já me protege...
Mas também eu espero "ter-lhe dado asas para voar e força para conviver com os outros e as aprendizagens que hão-de vir. Espero não o ter protegido demais"
Lindo, Manuela.
Linda história a sua também, Juca. Pois é, este eterno balanço entre proteger e dar asas...mas talvez não nos tenhamos enganado, com os nossos meninos. Assim espero.
ResponderEliminarObrigado por me ler e comentar, sempre com as palavras certas!