segunda-feira, 5 de maio de 2014

Resiliência...precisa-se!

Compreendemos o seu quotidiano e a exclusão. Sabemos que da vida roeram a parte mais dura e amarga e isso lhes deu olhos de lince, coração desconfiado e palavras rispidas, altas e apressadas, que atiram sem pedir licença, sempre que ficam acossadas com outros. Ou apenas surpreendidas, fazendo jus à ideia quando a esmola é muita o pobre desconfia. Não acreditam em milagres de amor ou amizade, o mundo, sabem-no, é demasiado dificil e pouco confortável, para quem, como elas, desde cedo se viram sozinhas e postas ao fundo das carteiras alinhadas da sala de aula. Depois cresceram e nada mudou, jovens ainda, viram-se com filhos em casas pequenas, responsáveis pelo seu cuidado e educação, que levam a peito. Debatem-se como ninguém pela sua integridade e felicidade, tal como a sentem e vivem. Não temem as zangas e o mau olhado, dele fazem a sua lança mais afiada para responder às agruras dos dias e das noites, relembrando a sua infância e meninice. Gritam alto e a bom som as suas ideias, como de leis certas e únicas se tratassem, olho por olho, dente por dente, é assim e mais nada, não admitem outros valores e teorias.

escolaSabemos, vemos, compreendemos. Mas há dias em que isso dói, cansa e destrói qualquer tipo de resiliência que como sabemos, deve estar presente no ser e fazer de uma educadora. Nesses dias ficamos muito cansadas e algo desistentes. Por pouco tempo, é certo, mas ficamos. E de novos nos lembramos da necessidade de politicas e práticas de intervenção, que sejam estruturadas a longo prazo, alimentadas por equipas multidisciplinares, coesas, com profissionais em numero suficiente e com sensibilidade para dar conta do recado.

E o recado não é fácil, não é ir ali ao fundo da rua e comprar uma qualquer receita mágica. Não. Exige muito trabalho, dedicação, sabedoria, lucidez, pés na terra e alma no céu. A educação em forma de projeto.
Sózinhos, não damos conta deste recado.  A reserva de resiliência tende a esgotar-se.
Hoje foi assim. 


2 comentários:

  1. Lindo, querida Manela. Foi assim que me sentia quando, em tempos, convivi, de muito perto e durante largos anos, com "gente que sente quando tem gente pela frente".. Depois percebi o significado e o alcance do ditado "Água mole em pedra dura tanto dá até que fura"!

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  2. Eu sei, amiga, mas há dias em que nem dos velhos ditados ajudam! mas sei que sim...obrigada por estares sempre por aí...

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