Hoje o dia amanheceu como sempre, tomei o café na rua, como sempre, comprei o jornal, como sempre e depois fui cumprir um propósito que não acontece com regularidade em todos os domingos que passam.
Na escola onde votei estavam muito poucas pessoas, sobressaltei-me, apesar de saber que nestas eleições, a abstenção será elevada. Fiquei meia desalentada a olhar para as mesas de voto sem filas, um ambiente meio cinzento como o dia. Depois de cumprido o meu direito e dever, sosseguei-me a pensar que talvez a hora tivesse influência no enorme silêncio dos corredores. Lá mais para a tarde, quem sabe, os homens e as mulheres da minha terra, saiam de casa e decididos façam valer a sua voz e o seu voto. Assim espero.
Vim para a casa a pensar na enorme alegria dos primeiros anos de eleições, quando em peso e quase em romaria, nos deslocávamos às mesas de voto, para dizer sim, não, basta. Escolhíamos os nossos representantes e sentíamos, mais afincadamente, que os resultados seriam entendidos como ordens, na linha da canção o povo é quem mais ordena. Sentíamo-nos protagonistas da decisão para o futuro, gente de carne e osso a construir a democracia, num processo de participação e liberdade. Como nos fora roubado e impedido este gesto durante tantos anos, votar era um ato novo, de cidadania, com implicações na cidade e na vida de todos.
Já não é? Acredito que ainda é, não abdico dele por nada, mas está mais fraco, alterado e decididamente menos valioso. Porque se banalizou? sim, se pensarmos que a politica se banalizou e hoje, estamos cansados de quase todos prometerem tudo e quase todos não fazerem nada. Começámos a não acreditar nas palavras que nos oferecem em tempo de campanha, e como vemos ouvimos e lemos, sabemos o que muitos politicos fazem do poder que lhes damos. Falta ética, solidariedade, transparência, cultura democrática, respeito e dignidade.
Desistimos? não podemos. Desistir jamais e porque vemos ouvimos e lemos não podemos ignorar. Que temos que continuar a exercer o nosso direito e dever, como um ato de resistência e de democracia. Temos que nos fazer ouvir. Sabendo que este é apenas um gesto e um tipo de participação, que nem sempre produz as necessárias mudanças que desejamos.
Depois de votar, teremos que continuar a ser cidadãos de corpo inteiro e a fazer a democracia nos espaços onde vivemos e somos. Sem medos, com ousadia, sentido de participação, liberdade, ideia de presente e futuro.
Temos que fazer ouvir a nossa voz.
Sem comentários:
Enviar um comentário