domingo, 18 de maio de 2014

Almoço de amigos

Ontem estive com uma menina linda e uma mãe doce. A mãe sempre a senti assim, corpo discreto, olhos amendoados, suavidade de gestos e palavras. Desloca-se de mansinho por entre os que com ela estão e sorri e fala e permanece. Já não a via há algum tempo e desta vez parece que lhe descobri uma pontinha, muito pequena, de tristeza ao fundo dos olhos. Talvez fosse impressão minha, coisas sem importância, talvez, nada que a impedisse de conversar e estar disponivel e perguntar por outros que ali não estavam. Pelo meu filho mais velho, por exemplo. E descobri que tem por ele uma ternura bonita, cuidado e atenção. Conversámos sobre ser mãe e outras tantas coisas da vida das mulheres. Foi bom, para se entender a vida em mil faces e mil traduções. E para nos sossegarmos do sentimento e da ideia que apenas acontece comigo...

A menina linda, está mesmo assim. Não a via desde bebé e de repente encontro-a com 3 anos, olhos redondos castanhos e grandes, corpo pleno, cheia de si e de infância. Uma infância traduzida na forma como brincou com pedrinhas, isto são mirtilhos, uma sobremesa, não é para hoje, só pode ser para amanha, as canções que cantou corrigindo-me os gestos o mar só pode ser feito com uma mão, assim...o teatro do capuchinho vermelho, ela o lobo eu o capuchinho, a ponderação para ouvir uma pergunta de um amigo nosso, ainda que preocupada com o seu papel de cozinheira, que tinha escolhido...eu não devia estar aqui, devia estar a fazer a comida para a minha filha...e indireitava-se na cadeira para ouvir a pergunta. E respondeu. E saltou e riu e chorou pelos morangos com chantiliy, para rapidamente se deliciar com os morangos apenas com um bocadinho de açúcar. Comia-os lentamente e com cuidado, protegendo a roupa e limpando a boca, enquanto ouvíamos uma caixinha de música a tocar. 

E eu fiquei a pensar nesta infância tão radiosa, tão forte e tão apoiada. Nesta mãe que ama, pensa, se preocupa e se maravilha com a sua menina. E nesta menina feliz, que fala, pensa, ama e se maravilha com a sua mãe, o pai, os amigos, as brincadeiras, os risos e a praia. Depois vamos à praia, mãe? acho que foram.

Eu vim para casa, contente e não pude deixar de pensar nas diferentes maneiras de ser-se mãe e filha. Nas diferentes formas de viver a infância, que não pode ser conjugada no singular, antes obrigatoriamente no plural.
E lembrei-me das infâncias dos meninos e meninas da minha sala. 

Não fui à praia, mas ganhei uma tarde de sábado boa. Com amigos e partilha(s). A amizade é isto. Ainda bem que há gente capaz de provocar encontros, à volta de um almoço e de afetos.
Apenas faltou canções cantadas pela mãe. Já a ouvi cantar e a sua voz é bela.
Fica para a próxima.


2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Curiosa esta coisa dos encontros, desencontros e reencontros...
    Há reencontros que são tão naturalmente bons e naturais, que nem parece ter acontecido qualquer afastamento.
    Talvez porque de uma forma ou outra, as pessoas se vão fazendo presentes. E parte. Mesmo tendo acontecido tanto e sabendo tão pouco.
    Um brinde aos reencontros à volta da mesa, às conversas, às partilhas.
    Um brinde às mães e pais, aos filhos e filhas.
    Um brinde aos amigos.

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