Compreendemos o seu quotidiano e a exclusão. Sabemos que da vida roeram a parte mais dura e amarga e isso lhes deu olhos de lince, coração desconfiado e palavras rispidas, altas e apressadas, que atiram sem pedir licença, sempre que ficam acossadas com outros. Ou apenas surpreendidas, fazendo jus à ideia quando a esmola é muita o pobre desconfia. Não acreditam em milagres de amor ou amizade, o mundo, sabem-no, é demasiado dificil e pouco confortável, para quem, como elas, desde cedo se viram sozinhas e postas ao fundo das carteiras alinhadas da sala de aula. Depois cresceram e nada mudou, jovens ainda, viram-se com filhos em casas pequenas, responsáveis pelo seu cuidado e educação, que levam a peito. Debatem-se como ninguém pela sua integridade e felicidade, tal como a sentem e vivem. Não temem as zangas e o mau olhado, dele fazem a sua lança mais afiada para responder às agruras dos dias e das noites, relembrando a sua infância e meninice. Gritam alto e a bom som as suas ideias, como de leis certas e únicas se tratassem, olho por olho, dente por dente, é assim e mais nada, não admitem outros valores e teorias.
E o recado não é fácil, não é ir ali ao fundo da rua e comprar uma qualquer receita mágica. Não. Exige muito trabalho, dedicação, sabedoria, lucidez, pés na terra e alma no céu. A educação em forma de projeto.
Sózinhos, não damos conta deste recado. A reserva de resiliência tende a esgotar-se.
Hoje foi assim.
Lindo, querida Manela. Foi assim que me sentia quando, em tempos, convivi, de muito perto e durante largos anos, com "gente que sente quando tem gente pela frente".. Depois percebi o significado e o alcance do ditado "Água mole em pedra dura tanto dá até que fura"!
ResponderEliminarEu sei, amiga, mas há dias em que nem dos velhos ditados ajudam! mas sei que sim...obrigada por estares sempre por aí...
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