Sábado de chuva em tempo de quase natal. Apesar das luzes e do brilho,
do muito trabalho e algum turbilhão, as gotas na janela a emprestar ao
dia, tons de cinza
escorridos, a lembrar que o tempo se esvai por entre os dedos,
deixando-nos com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. E
no entanto respiramos, debatemo-nos por causas e compromissos,
agendamos sonhos e futuros, temos em cada dia a certeza de
que prosseguir é o único sentido. Não só no natal, mas durante todo o ano.
Sábado de chuva, em tempo (quase) de Natal. Cá por casa, já montámos a árvore e colocámos os enfeites nos sítios do costume, gostamos de manter as tradições, do baú saem sempre os anjos e as botas feitas no jardim-de-infância pelos rapazes, que agora estão homens e olham para tudo com o sorriso do costume. Também expomos postais escritos por amigos, alguns já não estão fisicamente por perto, mas permanecem intactos e inquebráveis no nosso coração e na nossa vida. Vale a pena torná-los visíveis e presentes nos dias de festa do amor. Os amigos são o nosso bem maior, as nossas ofertas verdadeiras.
Sábado de chuva, em tempo (quase) de Natal. Na escola as crianças andam mais contentes e agitadas, os olhos brilham e o corpo pula, muitos desejos em formas de perguntas, Manela o pai existe mesmo? Manela, o pai natal dá sempre presentes? e nós a devolver as interrogações, para não matarmos (indevidamente) a fantasia, para saber o que esperam ouvir, para não prometer sem cumprir. E fazem desenhos, cantam e dançam, mostram sapatos dados e gorros quentes, que o frio aperta e eu gostava de ter roupa no natal, para trazer para a escola. E bonecas e jogos e bolas. Com descrição e recato, não pedem muito, a abundância não é uma experiência do seu tempo e da sua condição.
E precisam de brinquedos, porque se batem sem fim por um berlinde, choros, brigas e pedidos. Precisam de brinquedos e vão tê-los, mobilizámos outros e acolheram a ideia, gente interessada e sensível, quem mais tem pode dar, os excessos de uns são o essencial de outros. Não devia ser assim, a repartição dos bens devia ser (mais) equitativa e justa, uma decisão política e não atos de solidariedade, mas não sendo possível, façamos o que nos compete e falemos alto sobre desigualdades, para dizer ao mundo e para que o mundo não se esqueça. Nem sempre é bem entendido, o incómodo gera olhares de cansaço, porque repete ela sempre as mesmas coisas? Porque a vida custa a mudar, os destinos fazem-se diariamente e o tempo não se compadece com demoras e inércias.
Sábado de chuva, em tempo (quase) de Natal. Apesar da chuva e das gotas na janela, vai haver sol em alguns lugares. E risos de crianças à volta da árvore de natal e dos presentes. E gestos amigos e beijos doces. E sonhos na mesa, com uma toalha bonita. E vai ser bom.
Vai ser natal, gostamos de cumprir as tradições...
Delicioso, como sempre! Obrigada Manuela pelos sentimentos que nos despertas! Que seja um feliz Natal para todos e que a esperança nunca morra!
ResponderEliminarBeijinhos
Beijinhos, Manela! Muito obrigada por mais este fantástico escrito. Um "quente" e feliz Natal para ti e para todos à tua volta.
ResponderEliminarObrigada, Piedade e Margarida, um natal bom e renovado também para vocês. Abraços
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