Agora que as crianças foram para casa e a sala ficou silenciosa, tenho o natal a apoderar-se de mim. Entranha-se no corpo e no coração, invade as horas que restam das noites de sono, cola-se nas bolas que pomos na árvore, ecoa em mil pensamentos mansos. Olhamos de longe as luzes e fugimos da confusão, este natal reclama outra paz e silêncio, palavras justas, sentimentos certos, tempo que chegue para aquietar desconsolos e projetar o amor. Vivê-lo nos lugares e junto de quem é colo e regaço durante o ano.
Por isso, já visitei amigos e inaugurei a ronda. Fizemos as filhós na casa que, desde sempre, recebe quem se cuida e se quer bem. Como uma família. Lá estivemos pela noite dentro, com a lareira acesa, rindo de quando novos também ali estávamos, as crianças a correrem com olhos brilhantes, agora já mães e pais a abraçar os seus bebés. O bacalhau e as couves, os homens a conversar, os fritos para dividir, somos muitos e levamos para outros.
Também já fui à casa que é templo de longas conversas e confidências durante o ano. Neste natal a sala inundou-se de objetos guardados no baú, garrafas, quadros, postais, livros, tudo renovado com a atenção aos outros, os que estão no seu coração generoso. Embrulhos lindos e cuidadosamente decorados, nem na loja mais in poderíamos ter tal oferta, confirmámos o seu jeito de artesã exímia para alindar atos de amor, dedicação e respeito. A casa discreta, perfumada e com velas acesas, um natal sóbrio e distinto. Pensado.
Também houve um café e sonhos na casa que é de uma pessoa só, mas que parece muitas, porque se concebe rodeada do mundo. Ali estivemos a mitigar vidas, contando e recontando pequenas parcelas dos nossos dias, filhos e escola, sonhos e espantos, fazemos resumos em tardes curtas, sabemos da lonjura do que nos une. Uma música suave e enfeites de natal, anjos e velas, árvores e panos bordados, uma suavidade discreta e quente. Mesmo num dia de frio.
E assim vai a nossa ronda que ainda não terminou, temos outros encontros marcados, amigas e amigos do peito, gostamos de manter as tradições e sentir o que fica do que passa. O que se mantém vivo e pertença de nós, depois de desmontar a árvore e guardar o presépio. Gostamos assim deste natal, dos abraços quentes e dos afetos, de apertar as mãos e desfiar rosários. E agradecer a amizade, aquela que enlaça as rugas que vimos romper em cada rosto, os risos a
esconder as lágrimas que já chorámos, a alegria a tecer o conforto de nos termos por perto.
E assim será natal, longe de confusões e perto de mim e dos meus. Por isso, falta ainda nesta ronda, o encontro com os que já não estão. Guardarei silêncio para eles e não deixarei de os convocar, não há natal sem a sua memória. Andarão por entre os meus passos e os meus gestos, o que sou a eles o devo. Acenderei, para confirmar a luz da sua presença, umas velas vermelhas pela sala. E assim se cumprirá o natal, em ronda de afetos e amor.
Bom natal.
E assim será natal, longe de confusões e perto de mim e dos meus. Por isso, falta ainda nesta ronda, o encontro com os que já não estão. Guardarei silêncio para eles e não deixarei de os convocar, não há natal sem a sua memória. Andarão por entre os meus passos e os meus gestos, o que sou a eles o devo. Acenderei, para confirmar a luz da sua presença, umas velas vermelhas pela sala. E assim se cumprirá o natal, em ronda de afetos e amor.
Bom natal.
Um muito bom Natal Manuela, para si e para os seus.
ResponderEliminarBeijinho
Obrigada, Juca e bom natal e um ano de 2015 com tudo de bom. Um abraço grande
ResponderEliminarFeliz Natal Manuela...Que continue a maravilhar-me com os seus "escritos" em 2015. Abraço
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