A cara linda e os olhos amendoados, o cabelo cheio de trancinhas e um riso feliz. Contente com a escolha que fez das collants Manela, são de flores, ficam bem com a primavera, achou por bem que partihássemos o meu lanche, pão com doce, que acabou por comer sózinha, recostada na cadeira a dizer Hum, Hum, sabe bem, é gostosinho...
Olhei para ela, assim tranquila e sorri também. Vê-la assim era raro. Terminada a mudança da roupa, por ali ficámos um pouco mais, a trocar palavras e mimos, eu a responder às suas perguntas, ela a gostar de se ouvir a falar. Mais ninguém na sala. De repente, um pouco mais séria, disse:
- Eu tenho o monstro das birras e ele vem muitas vezes...
- Eu sei - respondi - em alguns dias eu vejo. Seguiu-se um silêncio, com ela a olhar em frente e eu a dizer:
- E tu sabes-me dizer porque é que ele aparece tanto?
- Sim, é porque os meninos olham para mim...não querem brincar comigo...não me deixam fazer as coisas...e eu choro...e bato...
- Pois é, ele é forte e dificil de controlar, mas eu posso ajudar...quando sentires o monstro a chegar, avisas-me, corres para mim e eu dou-te um abraço, assim e vencemos esse monstro...
- Está bem...agora já podemos ir embora, disse a menina a sorrir
E fomos. Já era tarde e eu há muito que terminara o meu tempo letivo. Mas ainda bem que tinha ficado na escola, porque apesar de já ter repetido esta ideia em muitos outros dias, nunca o tinha dito assim, em privado e exclusivo. Fora das horas oficiais da pedagogia. Quero acreditar que pode ter outro peso e outro valor.
Se a minha sugestão vai de imediato ser adotada? Não, eu sei, o que pode uma educadora, em horas contadas, contra a imensidão de quase 5 anos de vida? mas acredito que oferecer-se assim num fim de tarde, para apoiar a resolução de um problema identificado por quem o vive, pode ajudar a criar novos desafios e novos sentimentos.
Pelo cheiro do pão, o sabor do doce, o sentido da partilha, a intimidade da relação.
Se a minha sugestão vai de imediato ser adotada? Não, eu sei, o que pode uma educadora, em horas contadas, contra a imensidão de quase 5 anos de vida? mas acredito que oferecer-se assim num fim de tarde, para apoiar a resolução de um problema identificado por quem o vive, pode ajudar a criar novos desafios e novos sentimentos.
Pelo cheiro do pão, o sabor do doce, o sentido da partilha, a intimidade da relação.
Sem pressa(s) e com todo o tempo do mundo...
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