Fim de tarde com sol cor de laranja, temperatura amena, um ar de primavera. Os meninos a correrem no recreio, contentes com o sol e a ausência da chuva e do frio. Muita areia, pedras e paus, mapas de tesouros que fazem à pressa, porque a vontade mesmo é descobrir princesas e príncipes e baús de moedas. E também bichinhos e também ideias.
Tudo com muita alegria e confusão, as caras vermelhas de tanto correr, os itinerários interrompidos para a partilha dos achados. Irrompem sala dentro, atropelando-se, brigando até, para ver quem é o primeiro a ter atenção dos grandes. Os grandes somos nós, que observamos com satisfação a alegria dos meninos e a luz do sol a entrar pelas janelas e a perder-se na copa das árvores que povoam o recreio. Está eleito o espaço por excelência deste tempo, morriam de saudades de o explorar por inteiro e sem restrições, e eis que nos últimos dias, assim tem sido.
Menos conflituosos e mais serenos os meninos e meninas da nossa sala? nem por isso, continuam a chorar por coisas de nada, que sabemos ser coisas de tudo...continuam a querer ser os primeiros e empurram, sem pedir licença...continuam a zangar-se porque algum amigo olha para eles...continuam a querer ter, no imediato, e se assim não é, fazem birra...
Mas estão mais felizes com o sol e a rua. Envolvem-se em brincadeiras de wings, cães com trela, gormittis, caça ao tesouro, registos de mapas que fazem uns para os outros...e discutem a amizade, temem ficar sós, emprestam e partilham, dão e retiram. Para voltar a dar, porque experimentam, com todo o seu corpo e emoção, o prazer e a dificuldade de viver em grupo e aceitar cada um.
E é difícil, nós sabemos. Em alguns lugares e comunidades, ainda mais. Aprender o sentido do(s) outro(s) exige disponibilidade e segurança e uma cultura de desprendimento de si, que se cultiva e se adquire quando as necessidades individuais estão garantidas. Quando se suprime a dor e o sentimento de mal amado. E quando há pão sobre a mesa.
Por isso este sol e este calor é uma bênção em forma de oportunidade(s): a possibilidade de correr, brincar, mexer na areia, brincar com paus, descobrir bichos de conta, aranhas...e tesouros.
Porque se sentem príncipes e princesas? Quero acreditar que sim. Um pouco de realeza nesta infância só faz bem.
Claro que sim ;-)
ResponderEliminarOlá Manela
ResponderEliminareu hoje também vim para a rua!
Eram três horas e estava na sala a pensar "que seca", o dia não estava a correr muito bem (é a pressão dos testes, da matéria, dos manuais que não têm fim...). Olhei para eles e vi que todos ou quase todos estavam como eu.
Já me tinha zangado, hoje ralhei... De repente disse vamos arrumar tudo, ninguém falou porque eu já tinha ralhado e, quando se ralha, é mau sinal!!!
Saímos para o recreio e estivemos meia hora a correr, a dar saltos de coelho, a saltar ao pé coxinho...
Opá não fizemos os quantificadores numerais, mas apanhámos SOL, muito sol. E rimos, brincámos e tenho a certeza que fomos todos felizes para casa.
Amanhã logo tenho tempo para me chicotear por ir umas dez págjnas atrás das minhas colegas nos manuais, Mas quando fizermos testes de saltos de coelho, posso-te garantir que os meus alunos vão estar à frente e os delas uns dez saltos atrás!!!
Foi um desabafo porque sei que me percebes.
Beijinhos
Tânia
Pois percebo. E acho que é assim, é preciso parar, respirar (correr...) para recomeçar melhor...gosto quando entendem o que escrevo e tu entendes.
ResponderEliminarBjs e obrigada