Último dia do ano.
Silêncio absoluto na minha casa, nesta manhã chuvosa. As gotas de chuva decoram a janela do meu sótão, escorreguem lentamente pelo vidro, parecem pérolas. Lá fora o vento agita a folhagem verde das árvores. O dia está melancólico mas suave.
Antes que os ruídos se instalem neste quotidiano, procuro as palavras com que posso fechar este ano. Não vou fazer balanços ou prognósticos, os textos que já fiz retratam algumas situações vividas, o futuro vai apresentar-se como bem puder. Deixemos ficar tudo como está, não há forma de antecipar o que está para vir e em muitos casos, nem sequer convém. Vivamos um dia de cada vez.
Mas posso expressar desejos e vontades, para o ano que se aproxima. Logo à noite é o que farei, quando der a meia-noite e comer as passas. Repetirei o ritual, pedindo, emocionada, o que sempre peço e se vai cumprindo. Ou não. Para além do que queremos que nunca nos abandone - saúde, paz, amor - às vezes invisto noutras solicitações, desejos menos comuns, que vêm o ano passar sem serem realizados. Mas não podemos querer tudo, dizia a minha avó, mestra da vida e dos sonhos. Tinha razão.
A vida é imensa, cheia de surpresas e imprevistos e nós, quais mágicos de um circo antigo, compomos truques com maior ou menor competência. Nem sempre acertamos, porque não temos reportório nem perícia suficiente para todas as situações com que nos deparamos. Aceitemos a nossa finitude, sabendo que, nos aspetos fundamentais da vida, as respostas dependem de nós.
Mesmo assim, peço força, criatividade, resiliência, alegria, coragem. Para mim e para os meus. Peço que os meus amigos se mantenham por perto, atentos, lúcidos e sempre generosos. Que os meus filhos continuem a serem homens do seu tempo, sensíveis, capazes e abertos ao mundo. Que o mundo possa ser mundo em oportunidades e igualdade para os que vivem escondidos na sombra e destituídos da sua dignidade. Que os dias sejam de luz e claridade, que saibamos ter golpes de asa para as noites de escuridão, que nos possamos rever e acreditar nos eventos que soubermos realizar, individual e coletivamente.
Para isto e muito mais, peço saúde, paz e amor. Para mim e para todos aqueles que se mantêm nos seus postos, homens e mulheres ao comando de barcos lançados ao futuro e que fazem as viagens necessárias para que se cumpra o destino.
E porque não temos toda a decisão nas mãos, peço ainda sorte. Muita sorte.
Para todos vós também.
E porque não temos toda a decisão nas mãos, peço ainda sorte. Muita sorte.
Para todos vós também.
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