A cidade inunda-se de sons e cheiros, de noite as luzes brilham, há um pouco de musica no ar, alguma cor e um frio gelado que faz gostar do calor tépido das casas que são as nossas, onde moram os nossos afetos e quase toda a nossa vida.

E o menino somos nós, cheios de sonhos e alegrias, a lembrar a infância e a avó que deixava na meia pendurada na chaminé, umas panelinhas de alumínio, para que pudéssemos brincar e acreditar no natal. E no menino Jesus.
Quem dava as prendas no tempo das meias na chaminé, era o menino Jesus. E era pequeno e nosso amigo. Não o víamos, mas era assim. Doce como o mel, quente como os abraços da avó, feliz como a nossa alegria. E a nossa emoção.
Juro que sei de cor o cheiro dessa manha do dia vinte e cinco de dezembro. E o sentido da alegria. Coisa boa. Depois os risos e as panelinhas que na manha seguinte íamos mostrar às amigas, no carreiro junto à casa. E ficávamos lá a fazer as comidas, com areia, pedras e flores. A inventar o tempo de ser criança, com um menino que se lembrava de nós. Por milagre.
E a infância tinha o tamanho da surpresa, do calor do colo do avô, do sabor dos bilharecos, do frio dos caminhos e da água do poço. E das vozes dos adultos por perto, que a tratar da sua vida, não muito folgada, tratavam de nós, com amor e lucidez.
Sem grandes riquezas e ostentações, apenas com pequenos gestos, apenas os necessários para fazerem o natal que perdura, até hoje, intacto e perfeito dentro do coração. Para sempre.
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