domingo, 22 de dezembro de 2013

Fim de tarde

Domingo.
Uma réstia de sol a banhar a tarde, poucos dias antes do natal. Um horizonte com tons de laranja, uns farrapos de neblina cinzenta, um tempo frio a ficar no corpo. É natal. Sim, ainda persistem umas tarefas da escola, mas agora não quero pensar nelas, ignoro-as. Quero o tempo todo livre, preciso. Um  tempo solto, cheio de outras coisas, embrulhos de prendas, a árvore e o presépio, a sala quente com a lareira, os filhos por perto, gente que telefona, amigos que se encontram, rabanadas e sonhos. De natal e de vida. 

Tempo livre para pensar nos que partiram e já não estão aqui. Apenas a memória, algumas fotografias, imagens e recordações, alegria e saudade. Tempo para parar na doçura de algumas presenças, ausentes, mas que ficam no coração para sempre. E por isso, estão cá. Dentro e fora de nós, em objetos, lembranças e escritas. A saudade hoje não dói, é terra plena de frutos silvestres. Vermelhos, roxos, a fazer bem à alma e ao corpo. 

Tempo livre para encostar o rosto à janela e procurar o futuro. Pesquisar o que aí vem, sabendo que fazemos muito do que nos cerca. Fazemos porque somos homens e mulheres de vontade e decisões. Sim é certo, às vezes temos pouco poder nas mãos, mas a maior parte das vezes, somos os ardinas das noticias que nos chegam. Recebemos o que anunciamos.

Tempo livre para olhar para a natureza, a terra e o mar, as árvores. Reter dentro de nós a beleza da vida, enchermos-nos dos seus cheiros e cores, deitar fora a imensa escuridão que nos rodeia em alguns dias da nossa vida. Vestirmos-nos de vermelho e luz, sem dar tréguas ao cinzento da derrota. 

Tempo livre para ler e escrever. Pegar em algumas palavras e torná-las réis e rainhas do quotidiano. Sem pedir licença, que somos donos do nosso destino e não vale tecer um muro de lamentações. Não ajuda, não convence, não liberta.

E nós somos gente de liberdade, somos "seres da briga", como dizia o Paulo Freire. Briguemos então pelo nosso direito a tomar o tempo, as palavras, a terra, a beleza, a vida. No natal e em todos os dias. De domingo a domingo.

2 comentários:

  1. Tempo para tudo isso e para viver o Natal com saúde e alegria com quem mais amamos.
    Feliz Natal Manuela!

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  2. Então façamos natal todos os dias. (Como diz a canção)
    Feliz natal, hoje e sempre!

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