O fim de semana esteve cheio de sol e eu a correr, a correr. Apenas um intervalo no domingo à tarde. De resto, muitas coisas por fazer, entre a casa e a escola. Uma correria que nem sempre nos devolve os benefícios esperados, já se vê. Porque em quase tudo na vida, a calma e a serenidade são passaportes mais seguros para alcançar metas e portos de abrigo. Eu sei. Mas mesmo sabendo isto, eu corro. Correr quer dizer fazer coisas, quase sempre tarefas, às vezes um pouco soltas, com sentido imediato ou longo alcance. Quase todas integradas no caminho que vamos trilhando. Assim o sinto e assim o espero.
Entre corridas e tarefas - de casa e da escola - o meu pensamento a mil à hora. Vai e vem, pára e continua, surpreende-se com o que vê, imagina e projeta. Sempre fui uma rapariga de muitos pensamentos, agora ainda mais, porque já não sendo rapariga, redobrou a necessidade de compreender mais profundamente o que junto a mim, acontece. Neste fim de semana andei às voltas com os meus meninos e meninas, cheia dos seus comentários e afazeres, a tentar apaziguar alguma ansiedade, num grupo que demora a encontrar a sua(s) identidade(s). Não, não é assim, demora a encontrar a(s) identidade(s) que eu gostaria de ver. Porque este é um dilema profundo, a ambivalência entre o que eles são e mostram ser e aquilo que esperamos que sejam. E desejamos que sejam atentos, calmos, autónomos, sensíveis aos outros, capazes de estar e ser em grupo e na comunidade da sala e da escola. Quase perfeitos, se olharmos bem para dentro de nós.
E eles? são o que são, corpos pequenos e palavras à solta, lágrimas fáceis e mãos de repentes, como dizia a minha avó. São o que são e poderão vir a ser muito mais, caso vida e a sorte os envolva com gente atenta e mente aberta. E coração renovado de alegria e serenidade. Também com persistência e inovação. Gente com luz, para iluminar o que ainda são trevas e lusco-fusco. Gente com horizontes, em casa e na escola.
Sei que nem sempre os tenho. Ás vezes (muitas vezes?) fico comprimida na engrenagem dos dias, embrulho-me nas rodas dentadas da máquina e não alcanço mais lonjura que aquela que se encontra na sala e no meio circundante. Tudo ali, muito perto dos olhos e do coração, com vistas curtas, o que não abona em favor do sonho e do projeto. Quando estou assim perco a lucidez, canso-me e zango-me. Comigo, claro, por ir tão ao sabor da maré... e do que tem que ser feito. Às vezes sem sentido... Plano anual de atividades, dias festivos, semana de ...
Com o pensamento a mil à hora, neste fim de semana, detive-me nisto tudo e em muito mais. Detive-me no tempo que concedo a cada menino e menina e estremeci. Nas escolas, numa engrenagem nem sempre lúcida, gastamos muito do nosso tempo na gestão do grupo, entidade que leva uma eternidade para ser construída. E pensei na falta que me faz cultivar mais a preceito tempo individualizado com cada criança, para que não seja mais uma, mas seja ela. E possa falar de si, do que pensa, sente e gosta. E não gosta. Como ser único, e não apenas como elemento de um grupo.
Sei que é urgente e sei que vale a pena. Para uma educação de vínculos e laços. E só se vincula quem encontra lugar no tempo de um outro. Para além da planificação, das atividades e do tem que ser
Sei que é urgente e sei que vale a pena. Para uma educação de vínculos e laços. E só se vincula quem encontra lugar no tempo de um outro. Para além da planificação, das atividades e do tem que ser
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